EULÁLIA E A DITADURA SOCIAL
Eu vou contar a história
De uma menina bela
Que por ser bem diferente
E não ser tipo magrela
Era muito injustiçada
E todos se riam dela.
Eulália era seu nome
Dezesseis a sua idade
E por não ter celular
Comentavam na cidade
Que aquela tal garota
Não era da sociedade.
Por outras adolescentes
Era sempre rejeitada
Pelo seu jeito estranho
Já estava mal falada
Pois menina da sua idade
Tinha que ser bem notada.
Namorado ela não tinha
Pois não fazia questão
“Não tenho pressa com isso”
Pensava na ocasião
Queria correr o mundo
Em toda sua vastidão.
Lá naquele lugarejo
Tudo era parecido
Todo mundo andava igual
Até o desconhecido
Que chegasse no lugar
Tinha que ser bem vestido.
Se algo estava na moda
Todos tinham que usar
E a gíria do momento
Desatavam a falar
Sem saber qual o motivo
De assim se comportar.
Mas Eulália não ligava
Para toda aquela gente
Tinha sonhos grandiosos
Maquinados em sua mente
E pouco se importava
Se agia diferente.
Não era muito festeira
E de forró não gostava
Só se fosse pé-de-serra
Sendo bom ela escutava
Pois não era qualquer música
Que a ela agradava.
Gostava de Luís Gonzaga
De xote e de baião
E da originalidade
Das músicas do sertão
Mas pelos forrós modernos
Ela tinha rejeição.
Eulália não tinha Orkut
MSN também
Achava artificial
Pra se falar com alguém
Pois sem o calor humano
Ela não ficava bem.
Queria mais liberdade
Pra do seu jeito pensar
Fazer tudo a seu gosto
Sem ninguém lhe reclamar
Só porque não se encaixava
Nos padrões de seu lugar.
De novela não gostava
E nisso já reparavam
Quando saía na rua
Rapazes não a olhavam
Pois não tinha os atrativos
Que eles tanto buscavam.
Na verdade eles gostavam
De menina consumista
Que ia sempre às lojas
E às bancas de revista
Para saber qual a moda
Lhe manteria bem vista.
E as moças da cidade
Só queriam namorar
Com rapazes que de carro
Iam a todo lugar
Vestidos de gola-pólo,
E no ouvido um celular.
Na cidade de Eulália
Pouco se valorizava
Quem tinha menos dinheiro
Mas os sonhos cultivava
Porque naquela cidade
Quem era fútil reinava.
No lugar onde nascera
Era triste a situação
Não pensava por si própria
Aquela população
Mas vivia dominada
Totalmente sem noção.
Padrões estabelecidos
Deus é quem sabe por quem
Mas todos eles seguiam
Sem questionar a ninguém
Pois na vida só fazemos
O que melhor nos convém.
Se questionar para quê?
Se motivo não havia
Tudo era já tão bom
Que mudar ninguém queria
Às vezes é bem mais fácil
Viver sem filosofia.
Eulália, boa menina
Tinha enorme coração
Mas por sua aparência
Chamava pouca atenção
Por não manter pela moda
Uma grande devoção.
Muitas vezes excluída
Por ela não concordar
Nem fazer apologia
Aos padrões do tal lugar
E viver a vida sem
Com eles se importar.
Não obedecia as regras
Ditadas na sociedade
Mas seguia a consciência
Para viver sem maldade
Fazendo somente aquilo
Que nela dava vontade.
Eulália é personagem
Dessa estória que contei
Na verdade é fictícia
Fui eu mesma que inventei
Mas situações assim
Na vida presenciei.
A nossa sociedade
Chega a ser massacrante
Na vida de toda a gente
Ela quer ser dominante
Basta agir diferente
Para a pressão ser constante.
Como se deu com Eulália
Pode até ser com você
Caso fuja do padrão
Na sua pele vai sofrer
Pois se agir diferente
Lhe criticar vão querer.
Um conselho que lhe dou:
Só aja com o coração
Pois na vida o que vale
é viver com emoção
Mesmo que toda a gente
Tenha outra opinião.
Respeite as diferenças
Conviva com harmonia
Para Deus somos iguais
Só mudando a sintonia.
Mas no final somos feitos
De amor e alegria.