O Amor de um Vaqueiro

Dizem que quem nasce errado

Morre sem ter correção

E transgride a vida inteira

Sem amor no coração.

Mas conheci um vaqueiro

Que mudou-se por inteiro

Por amor: Sebastião...

O seu pai era um humilde

Pobre da mão calejada

Que dava duro na roça

Mas de seu não tinha nada

A pouco tempo casado

Ele amava e era amado,

Cuidava da sua amada

Assim nasceu Bastião

Filho de um casal feliz

Que não tinha quase nada

Mas no amor tinha raiz

Porém o louco destino

Fez diferente o menino

Deu-lhe outra diretriz.

Desde cedo não queria

Chegar perto do roçado

Seu sonho era ser vaqueiro

Que não pousa sossegado;

Viajar pra competir,

Deixar amores, partir,

Ser um homem afamado

Ele crescia depressa

E sempre a observar

Vaqueiros e vaquejadas

Sonhando em participar

Dessa festa tão bonita

Quando o povo todo grita:

- Valeu boi! Ao derrubar.

Trabalhou numa fazenda,

Era tudo o que queria

Poder aprender de tudo:

Desde simples montaria

A laçar e derrubar,

Como em rodeios montar

E a aboiar com maestria

Parecia inexplicável

Tanta determinação

Tinha idade de menino

E a força de um peão

Quem parava e observava

Em pouco tempo exclamava:

- Estou vendo um campeão!

Também com outros vaqueiros

Ele entrou na bebedeira

Começou a perder noites

E a brigar por besteira

Dos muitos que acreditavam

Quase todos duvidavam

Que ele teria carreira

Dispensado do trabalho

Ficou sem salário e casa.

Ele pensou lá consigo:

- Vou bater a minha asa

Ganhar dinheiro montando,

Laçando o boi, derrubando

Quem tem jeito não se atrasa!

Na primeira vaquejada

Sebastião se inscreveu

Derrubando bem, na faixa

Ouvia o grito: - Valeu!

Tirou primeiro lugar

Tinha jeito pra ganhar

Pois quase nunca perdeu

E seguiu com seu talento

Fazendo fama e dinheiro

Muitas mulheres queriam

Fazer dele prisioneiro

Mas só deitava e sumia

E toda voz só dizia:

- Não há amor no vaqueiro!

Não ajudava seus pais

Deles já tinha esquecido

Ser o maior campeão

Era o único sentido

De uma vida trocada

Por prêmios de vaquejada

E um coração partido

Até que em uma cidade

A Cajaíba Pequena

Sebastião se encantou

Por uma bela morena

Era a pacata Maria

Bela qual uma poesia

Em uma noite serena

Tinha os cabelos escuros

Como noite sem luar

Uma voz meiga e macia,

Um passarinho a cantar

Era uma deusa encarnada,

Uma princesa encantada

Feita só para amar.

Mas pensar que Bastião

Depressa se entregaria

Já era esperar demais

E logo naquele dia

A moça ele conquistou

E também abandonou

A bela e doce Maria.

Viajou pra outros cantos

Vaquejadas a vencer

Mas não esqueceu Maria

E nem podia esquecer

Só tinha a menina em mente

Estava quase doente

Nesse imenso padecer

Bebida não resolvia,

Não deixava satisfeito

Rodeios e vaquejadas

Também não lhe davam jeito

Ele estava apaixonado

E de um jeito inesperado

Resolveu agir direito

Voltou para Cajaíba

Mesmo sem ter vaquejada

Deu sorte de encontrar

Ela ainda enamorada

E lhe falou bem sincero:

- Nesse mundo eu só te quero,

Vamos casar minha amada?

Ela disse: - Sim, aceito!

Foi essa sua resposta

Sebastião muito alegre:

- Pode fazer essa aposta;

Hoje eu tenho outro valor

Vou viver do seu amor,

Fazer o que você gosta.

E tomou jeito depressa

O amante Bastião;

Visitava o pai e a mãe,

Demonstrava gratidão

Abriu mão de vaquejar

Somente para ficar

Perto da sua paixão

Tornou-se um homem comum

Com um emprego qualquer

Sua vida resumida

Ao amor de sua mulher

Que logo dele cansou

E o pobre abandonou,

Acredite quem quiser!

E lhe deixou um bilhete

Em uma letra bonita

Que dizia com frieza:

- Sua mansidão me irrita,

Eu amei um campeão

Mas está na contra-mão

Com essa vida restrita

Por favor, não me procure,

Volte a viver na estrada,

Seja sempre um campeão

E não pense em mais nada

Talvez eu volte a te amar

Se quando o reencontrar

For o rei da vaquejada.

Ele sofreu, mas voltou

A ser um vaqueiro errante

Ganhou prêmios e mais prêmios

E assim seguiu adiante.

Ele não foi o primeiro

A mudar seu modo inteiro

E perder a sua amante.

Tarcísio Mota
Enviado por Tarcísio Mota em 23/08/2009
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