Um homem de muita fé> Autor: Damião Metamorfose.

*

Tem homens que se ajoelham,

Sobem montes pra orar.

Pagam dízimos às igrejas,

Jejuam pra não pecar.

-mas quando sente uma dor,

Blasfema do seu senhor,

Chega até esconjurar.

*

Outros nem sabem rezar,

Quase não vão à igreja.

Não jejua em dia “santo”

Misturam vinho e cerveja.

-mas quando surge um problema,

Não esconjura ou blasfema,

Nem sequer se esbraveja.

*

Sua vida é uma peleja,

Matando um “leão” por dia

Passando necessidades,

Com a dispensa vazia.

-mais ele nem se estressa,

Nem vive a fazer promessa,

Pra esquecer no outro dia.

*

Não usa de hipocrisia,

Para com seu semelhante.

Não desanima da luta,

Nem pousa de arrogante.

-pois sabe que a vida é,

Um exercício da fé,

Cultivada a cada instante.

*

Tachado de ignorante...

Pelos donos da “verdade”

Só sabe o que são deveres,

Não sabe o que é vaidade.

Cala mesmo com a razão

E os seus direitos são,

A metade da metade.

*

Quase não vai a cidade,

Não sabe o que é diversão.

Quando o seu labuto acaba,

Começa o do seu patrão.

-mas ele não se maldiz

E ousa dizer: sou feliz,

Meus filhos sempre têm pão...

*

A palma da sua mão,

Só tem calo e hematoma.

O seu saber natural,

Vale mais que um diploma.

-mas tudo que ele produz,

Em vez de ter valor jus,

O atravessador toma.

*

Pancadas? Nem sabe a soma,

Unhas pretas, pé rachado.

Pele grossa e avermelhada,

O olhar compenetrado.

Esse herói sem defesa,

Colhe o pão pra sua mesa,

Mais não é valorizado.

*

O seu ombro calejado,

Um árduo fardo carrega.

O semblante envelhecido,

O rosto cheio de prega.

Cidadão simples e ordeiro,

Mas é sempre hospitaleiro,

O que tem a ninguém nega.

*

Muitos o chamam de brega,

Piegas ou sem cultura.

Nem desconfiam que o mundo,

Precisa da agricultura.

Pois sem ela a fome assola,

Para tudo e não decola,

Nem rico, vai ter fartura.

*

Esse símbolo de bravura,

Pode ser ante-moderno.

Mais é impar em sua fé,

No altíssimo pai eterno.

Confiante e paciente,

Fere o chão, planta a semente,

Mesmo que não tenha inverno.

*

Nunca pegou num caderno,

Não sabe o que é estudar.

Trabalha desde criança,

Sem tempo para brincar.

Mas sempre honrou o seu nome

E o mundo perece em fome,

Se ele resolver parar.

*

E em vez de valorizar,

Esse humilde cidadão.

Os políticos do país,

Ou corruptos de plantão.

Só lembram de dar valor,

A esse trabalhador,

Em época de eleição.

*

Beija, abraça, aperta a mão,

Come da sua comida.

Prometem mundos e fundos,

Em melhorias de vida.

Bastam chegar ao poder,

Que todos vão esquecer,

A promessa prometida.

*

Estão deixando essa lida,

A cada dia que passa.

Uns só por não ter valor,

Outros por pura pirraça.

Casas fechadas, sem dono,

Fazendas no abandono,

Comida ficando escassa.

*

Não tarda e essa devassa,

Contamina no mundo inteiro.

Sem o bravo agricultor,

Falta o alimento grosseiro.

Aí é que eu quero ver,

Quem é capaz de viver,

Comendo o próprio dinheiro.

*

No nordeste brasileiro,

Já não se planta algodão.

Sem a lã, não tem tecidos,

Também não tem tecelão.

Se não vier lá de fora,

Brasileiro não demora,

Vai se vestir com a mão.

*

Cansado nu e sem pão

E com essa violência.

Calor de cinquenta graus,

Todo o sistema em falência.

Mistura o chique com brega,

Pega solta, solta a prega,

Vai ser aquela indecência.

*

Quero ver se a ciência,

Arruma uma solução.

Para acabar com a fome,

Transformando pedra em pão.

Ou com essa decadência,

Deixa a chique sapiência,

Vira brega e passa a mão.

*

D*eus me deu a inspiração,

A*guçou a minha fé.

M*as esse assunto é serio,

I*mportante eu sei que é.

A*judem o homem do campo,

O*u chique vira ralé.

*

Fim

13/11/2009.

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 14/11/2009
Código do texto: T1922784
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