"TIO FLÁVIO": RIQUEZA QUE VEM DA ALMA - A
Há tempo nesta cidade
Um negro de certa idade
Em sua santa demência
fazia-se excelência
Criatura sem maldade
Arquétipo de coronel
Montava em seu cavalo
Era questão de segundos
E chegando ao hospital
Dava ordem para os médicos
Já passava dos oitenta
E aí tudo é normal
Repreendia o prefeito
Quando a coisa não cumpria
Achava em tudo defeito
Quando a língua lhe ardia
E com a cabeça erguida
Parecendo uma enguia
Transformava-se em sorte
Sua lendária maestria
Uma figura carismática
"Tio Flávio" foi, muito além
Aqui nestas cercanias
Foi rico sem ter riqueza
Mesmo assim sem ter nobreza
Era assim que ele sentia
Mas, como a riqueza é d’alma
Em cada um que a tem
"Tio Flávio" era rico assim mesmo
Não tendo nenhum vintém
Tantos com tantos tesouros
Não se olham prá ninguém
Constroem seus mundos a parte
Do jeito que lhes convêm
O conto desse folclore
O mais engraçado que vi
Ao chegar no hospital
Chamava o Dr Ari.
E na cordial demência
Ele ia dizendo assim:
--- Cuida bem da Santa-Casa
Ainda volto por aqui
O cavalo tá lá fora
Tenho agora que partir.