HISTÓRIAS DO CANGAÇO: MOSSORÓ, A CIDADE QUE BOTOU LAMPIÃO PRA CORRER

1

Meu relato se remete

À Mossoró do passado.

Nos idos de vinte e sete

Um clássico era jogado:

Ipiranga e Humaitá,

Duelo maior de lá,

Agitava o município.

Os livros dão testemunho:

No dia doze de junho

O escarcéu tinha princípio.

2

Era festa na cidade,

Grande baile acontecia,

Fervia a sociedade,

Um tormento se antevia:

O famoso cangaceiro

Deste solo brasileiro

Preparava uma invasão.

Mossoró foi avisada

Que iria ser atacada

Pelo dito Lampião.

3

O prefeito alardeava

O prometido castigo,

Mas ninguém acreditava

Que real era o perigo.

Já se encontrava a caminho

Aquele bando todinho

Tendo Virgulino à frente.

Não se tinha nem ideia,

Começava a epopeia

Daquele povo valente.

4

Era Rodolfo Fernandes

O governante local.

Destemor e fibra grandes

Inflaram sua moral.

Procurava lutadores

Pra conter os invasores,

Nisso não teve sucesso.

Faltava-lhe combatente,

Conseguiu armas, somente,

Para enfrentar o processo.

5

Armou a população

Com o que lhe foi doado.

Fez a determinação

A quem via desarmado:

Que fosse para outra praça

Encarar toda a pirraça

Da turma de bandoleiros.

Formava-se desse jeito

Pelo coronel-prefeito

Contingente de guerreiros.

6

Para não fazer pilhagem,

Mandou o Rei do Cangaço

A Rodolfo uma mensagem

Como quem diz: "ameaço!"

Num bilhete, grave insulto,

Pedia um enorme vulto

De dinheiro para o bando.

Para não fazer estrago

Pouparia, caso pago,

A cidade, nem entrando.

7

Recado não atendido,

"Capitão" outro encaminha.

Deveras enfurecido,

Redige nova cartinha.

Seu pedido reitera

Entretanto, aquela fera

Recebeu esta resposta:

Se o dinheiro desejasse,

Invadisse e lá buscasse...

Peitaram sua proposta!

8

Já era dia do Santo

Chamado casamenteiro.

Chegava naquele canto

O temido cangaceiro.

Teve início a resistência

Contra aquela violência

De todos bem conhecida.

Quando Lampião investe,

Eis que a Capital do Oeste

Com vigor é defendida.

9

Pra todo lado foi bala

Na batalha ali travada.

Arrepia até narrá-la

Pela força demonstrada.

Corajosos habitantes,

Nos históricos instantes.

Reagiram bravamente.

Os cabras não esperavam,

Mas os homens revidavam.

Foi um marco, certamente.

10

Desse combate sangrento

Foi assim o resultado:

Ao final do enfrentamento,

Lampião foi derrotado.

Por ali levou cacete,

Perdeu, finado, o Colchete,

Outro ficou de refém.

A trupe saiu mais fraca,

Pois prenderam Jararaca

Que depois morreu também.

11

Como foi mal sucedida

A tentativa de saque

Visto que foi respondida

Igualmente com ataque,

Fugir foi a solução

Achada por Lampião

Pra não ser mais humilhado.

Com seus cabras, sem demora,

Cabisbaixo, foi embora,

Pelo revés afetado.

12

O mito caiu por terra.

Não era, pois, invencível.

Na Terra do Sal, a guerra

Para os homens foi horrível.

A vergonhosa derrota

É verdade, não lorota,

Em desconfiar nem pense!

A galera do barulho

Pra correr, com muito orgulho,

Botou o mossoroense.