A PURTÊRA DO PASSADO...- Literatura de Cordel Matuta.

A PURTÊRA DO PASSADO...

Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

2 0 0 9

Hoje eu inventei de abri,

a purtêra do passado,

salucei emocionado,

cum o qui alí, incontrei.

Quando ela s’iscancarô,

me ví de nôvo, criança,

intupido de isperança,

num me agüentando, chorei.

Do ôto lado da purtêra,

ví ais istrada de barro,

cubrí de puêra, uis carro,

bem cuma uis caminhonêro;

tombém ví uis tangirino,

tocando ais suas boiada,

puro pé, cortando a istrada,

no Nordeste brasilêro.

Avistei uis aimocréve,

tombém chamado tropêro,

fazendo açude e barrêro,

sôbre uis leito puêrento;

nuis ríi, nuis riacho sêco,

erguê paredão de barro,

cumpaquitando o pissarro,

cum is casco duis seus jumento.

Puressa mêrma purtêra,

ví cunzinha improvisada,

nuis acêro dais istrada,

nais trempe, in fogo de chão;

ví uis panelão de barro,

prumode matá a fome,

do irmão matuto, sem nome,

cunzinhando o seu fêjão.

Ví, cum o dia amanhincendo,

potregida na latada,

a panela de quaiáda,

a rapadura, o café;

ví uis matuto traçando,

dois, trêis prato de cumida,

prumode infrentá a lida,

cum dispusição e fé.

Ví o tiradô de leite,

acordá de madrugada,

cuidá da vaca amojada,

no currá, fazê ordenha;

uví o carro de boi,

gemendo lá no céicado,

chêíin, intupigaitado,

de ispíin queimado e de lenha.

Ví um jumento cansado,

cum o pêso dais ancurêta,

uví batê a marrêta,

no ofíço do ferrêro;

ví uis matuto animado,

ví uis açude sangrando,

ví o inverno chegando,

in preno méis de janêro.

Ví ais vaquinha vortando,

à tardinha, p’ru currá,

ví mamãe, p’ru mim, chamá,

pidindo o leite ispumante.

Me ví cum o barde na mão,

abri ligêro a purtêra,

levá o leite, de carrêra,

prá ela, no mêrmo instante.

Ví tudo qui é de cumida,

da mêsa do sertanêjo,

matá a fome e o desêjo,

lá na sala de jantá.

Papai cum o rádio ligado,

centro daquele universo,

uvindo o repórter Esso,

p’rá dais coisa, se interá.

Ví tôdo êsse cenáro,

chorando emocionado,

ví minha vida de gado,

ví minha gente querida;

ví minha felicidade,

nuis véio tempo de ôtróra,

ví a minha própria istóra,

no retrovisô da vida...

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do RN.

Da União Brás. de Trovadores-UBT-RN.

Do Inst. Hist. e Geog. do RN.

Da Com. Norte-Riog. de Folclore.

Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.

Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP.

Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.

E-mail: bobmottaapaoeta@yahoo.com.br

Site: WWW.bobmottapoeta.com.br

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Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 09/12/2009
Reeditado em 09/12/2009
Código do texto: T1968611
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