O PERNAMBUQUÊS

O PERNAMBUQUÊS

Pra todo pernambucano

Amar seu vocabulário,

Pros turistas aprenderem,

Pois eles não são otários,

Falarei Pernambuquês

Para o pobre e pro burguês

Melhor que o dicionário.

Só quem é pernambucano

Sabe o dialeto local,

Segue então a explicação

Dessa língua divinal,

Para que um belo dia

Seja de noite ou de dia

Ela se torne universal.

Por aqui é engraçado

Vê o nativo falar,

Ele usa uma linguagem

Qu’é bastante popular:

Botão de som é pitôco,

“Caba” mole aqui é frôxo,

E dêxa o povo mangar.

02

Gente alta é galalau,

Quem é franzino é xôxo,

O displicente é leso,

O pequeno é cotôco,

Rir dos outros é mangar,

Faltar aula é gazear,

Estouro aqui é pipôco.

Vixe! é sinal de espanto,

Tudo que é bom é massa,

O que é ruim é peba,

É assim que a gente fala.

Tá com raiva, invocado,

Quem tem sorte é cagado,

Cheiro de suor, inhaca.

Vai sair, diz: vou chegar,

Caba sem dinheiro é liso,

O que não pede licença,

Emburaca, é enxerido.

Aquilo que está folgado,

Aqui tá afolozado;

Ô palavrão enxerido.

03

Quem não cumpre o prometido

É chamado farrapêro;

Inteligente, sabido,

Quem não gasta, piranguero.

Meleca aqui é catôta

Tá com raiva, “tá cá gota!”

Eita língua de brejêro!

Pirangueiro é mesquinho,

muquirana ou amarrado,

sovina ou mão de vaca,

Há mais significado.

Corrente é trancilim,

Frescura aqui é pantim,

O bêbado, “tá bicado.”

A borracha de dinheiro

Aqui se chama de liga.

Sujeira de olho, remela,

Pão bengala é tabica.

Pernilongo, muriçoca,

Qualquer doce é paçoca,

Por isso, amigo, se liga!

04

Queijuda, Moça donzela,

Moça nova é boyzinha,

Briga pequena, arenga,

Cabelo ruim, fuinha.

Chicote se chama açoite,

Sinal de espanto é “vôte!”,

Besteira é abobrinha.

Atitude de palhaço

Aqui se chama muganga,

A nódoa se chama mancha,

Galinha nova é franga.

Fofoca chama fuxico,

Todo Francisco é Chico,

Toda dança é ciranda.

Quem não paga é xexêro,

Rolo aqui é confusão,

Pedaço de pedra, xêxo,

Rapariga? Palavrão.

“É mesmo” se diz “iapôis”,

Piolho se diz piôi,

É a língua do povão.

05

Armazém que vende tudo

Aqui se chama budega.

O homem namorador

É chamado de pai-d’égua.

Carro novo é zerado,

Doido é abilolado,

Qualquer ferida, pereba.

O chato é cabuloso,

Apaixonado, arreado.

Aquele que tem dinheiro,

É rico, é estibado.

Descorado, amarelo,

Virgem é rapaz donzelo,

Mal-vestido, malamanhado.

Uma marca de pancada,

Aqui se chama de roncha.

A casa chama-se rancho,

A barriga é a pança.

Quando a gente tá cansado,

Se diz que tá infadado.

O coco é uma dança.

06

Tudo quanto é miúdo,

Chamamos pixototinho.

Um pedaço bem pequeno

é chamado de taquinho.

Chamego é um namoro

Arretado, bem gostoso.

Com muito amor e carinho.

Homossexual é gay,

É bicha, afeminado.

É chamado de baitola,

mulherzinha, é viado.

Distraído é Zé Mané,

Pomba lesa ou lelé

Ou então abestalhado.

Um negócio desonesto

Chama-se de marmelada.

Um cozido temperado

É chamado panelada.

Alcatifa é carpete,

Sutiã se diz corpete,

Eita língua invocada.

07

Lá no nosso Pernambuco

Lambedor é o xarope

O boné chama-se gorro

Jarra d’água é o pote

Tribufu é mulher feia

Orelha se diz ureia

O pescoço é o cangote.

Se tá escuro, tá pardo

Em cima é lá em riba

Lábio grande se diz beiço

Bucho aqui é a barriga

Cuscuz é o pão de milho

Ariar é dar o brilho

Cansaço se diz fadiga.

Comprimido é cachete

Incaicá é apertar

Coluna é espinhaço

Buli é mexer, tocar

Grampo capilar, birilo

Umbigo se diz imbigo

Não precisa duvidar.

08

Mulher gorda é baleia

Chateado, incabulado

Moça bonita é filé

Bocó é abestalhado

Quem fofoca, fuxiqueiro

Curral de porco, chiqueiro

Muito bom é arretado.

A culinária apresenta

Palavras bem engraçadas,

O pirão, a macaxeira

O mocotó e a rabada.

Tem guisado de guiné,

O nosso sarapaté,

Tripa de porco, buchada.

Leitores, vou terminar

O meu cordel-dicionário,

Deixando pra quem gostou

Meu muitíssimo obrigado.

Quem não gostou tá doente,

Provavelmente já sente

Um preconceito danado.