DIVAGAÇÕES EM CORDEL.

DIVAGAÇÕES EM CORDEL.

Ademar Macedo/RN

Quem carrega, como nós

o vírus da poesia,

tem no sangue uma plaqueta

que se altera todo dia,

aumentando a quantidade

e pondo mais qualidade

nos versos que a gente cria.

No meu verso, dia a dia

eu busco a minha obra-prima;

sei que é difícil encontrá-la,

mas nada me desestima,

e quando a inspiração brota

no meu verso já se nota

metrificação e rima.

Nunca fiz uma obra-prima

nesse campo que trafego,

sem um pingo de ambição

grande desejo eu carrego;

sei que não é utopia,

neste mundo de poesia...

quero ser grande, não nego!

Não sou grande mas me apego

aos versos que eu mesmo faço,

seja para um grande público

ou sozinho em meu terraço;

seja noite ou seja dia,

pois, para fazer poesia

jamais eu sinto cansaço.

O caminho que hoje eu traço

no qual me tornei atleta,

foi Deus que determinou

a poesia como meta;

agradeço ao onipotente,

pois só depois do acidente

eu me descobri poeta!

Eu que já nasci poeta,

nas asas do verso eu vou

no sertão buscar saudade

pois foi lá que ela ficou;

nesta saudade eu mergulho,

sentindo um enorme orgulho

do sertanejo que sou.

O meu sertão me ensinou

a gostar dos cantadores;

do meu pobre homem do campo

aprendi sentir as dores;

imitar os passarinhos

e correr pelos caminhos

sentido o cheiro das flores.

A mente dos cantadores

entre as outras sobressai,

porque o nosso poeta

no verso não se retrai;

dele faz acrobacia,

dá cangapé na poesia

e a poesia não cai!

De mim o sertão não sai;

guardo na imaginação

as brincadeiras de roda

numa noite de São João;

vivo cheio de saudade

morando aqui na cidade

com saudades do sertão!...

Os meus sonhos sempre vão

nas asas que o verso cria;

na minha imaginação

ele cresce e se irradia;

toma beleza e formato,

faz um passeio abstrato

e pousa em minha poesia.

Tal qual uma fantasia

eu guardo algo que não finda,

é a minha inspiração

que vem mansamente e linda;

mesmo com ajuda dela,

a minha estrofe mais bela

eu mesmo não fiz ainda.

A poesia nos brinda

com um manto de beleza,

nos inventos que ela cria

com tamanha ligeireza,

nasce assim em nossa mente

enviados de presente

pela própria natureza.

Meus versos faço na mesa

e de caneta na mão.

Não faço versos na hora

como os vates do sertão.

Quem faz versos de improviso

hospeda no seu juízo

os anjos da inspiração.

Tudo Deus pôs no sertão

para o pobre desfrutar:

manga madura no pé,

batata para arrancar;

fava e mel de jandaíra,

curimatã e traíra

pra o sertanejo pescar.

Agora eu quero falar

das coisas da natureza,

que mostra pato e marreco

nadando na correnteza;

e ainda tem o pavão,

que das aves do sertão

é a que tem maior beleza.

Vejo um quadro de beleza

surgindo no horizonte,

e logo depois que o sol

se deita por trás do monte...

Envolto nessa penumbra

a minha alma se deslumbra

bebendo versos na fonte.

Com a mão em minha fronte,

Deus, que tudo faz e cria,

colocou na minha mente

talento e sabedoria;

e com bênçãos do Universo,

fez uma fonte de verso

por onde jorra poesia...

De versos e de poesia

minha fonte não se esgota.

Concursos que eu participo

sempre tiro boa nota;

fabrico o verso na mente

e boto coisa em repente

que outro poeta não bota...

Mesmo no fundo da grota

eu bendigo a minha sorte;

ter nascido nordestino

no Rio Grande do Norte;

e pela fé que eu detenho

pelo grande Deus que eu tenho,

não devo temer a morte!

Tenho Fé e tenho sorte

e é profunda a minha fonte.

Escrevo sobre as estrelas

e as pedras que tem no monte...

sobre o povo favelado

e aquele que é deserdado

que mora em baixo da ponte!

Nasceu em mim uma fonte

que é um mar de inspiração;

o verso faz um translado

da mente pra minha mão...

quando é poesia de amor,

passa seja como for

nas veias do coração!

Eu sinto que a inspiração

tem um pouco de magia,

pois toda estrofe que nasce

me fascina e me extasia;

e em cada verso que faço

vou mastigando um pedaço

do pão da minha poesia.

Eu sinto em minha poesia,

um galho se balançando,

o vôo de uma gaivota,

um orvalho gotejando;

coisas que não estou vendo...

estou somente escrevendo

o que Deus está ditando!

Nos versos que eu vou criando

fantasio os meus desejos:

pinto o céu de muitas cores

com infinitos lampejos;

trago a chuva pra o sertão

encho de milho e feijão

os silos dos sertanejos!

Realizo meus desejos

seja em setilha ou quadrão,

no meu teclado da mente

faço toda afinação,

e sem choro e sem lamento

vem ao mundo outro rebento

trazido por minha mão.

Envolto na inspiração

que Deus mandou lá do céu,

como vate Santanense

trovador e menestrel;

do jeito que o verso emana,

escrevi numa semana:

“Divagações em Cordel”...

Ademar Macedo
Enviado por Ademar Macedo em 10/01/2010
Código do texto: T2022289