O grito de 500 anos - Parte V
Antes corrias para caçar,
Agora tinhas que correr.
Para os brancos,
Não o escravizar.
Quanto mais corrias,
Não havia mais lugar.
Pois só brancos,
Encontravas por lá.
E de suas terras viu-se deixar,
Pela força das correntes.
Em seus braços enrolar,
E por lá nunca mais voltar.
E nos barcos negreiros,
Muitos gritos ouviram ecoar.
Mas não foi de terra a vista,
E sim do chicote açoitar.
E durante a travessia,
Tanto choro e tantas lágrimas.
Podia-se escutar,
Que até hoje não se pode perdoar.
Nem a omissão de uma igreja,
Nem a do povo aceitar.
Que simplesmente uma cor,
Pudéssemos escravizar.
Depois de cruzarem o grande mar,
E de suas terras tão longe ficar.
Eram apresentados em leilões,
Para que o maior preço alcançar.
Na mostra de seus dentes,
E do seu corpo a quem estava lá.
Escutava-se o grito,
Do preço que eles iriam pagar.
Depois de vendidos,
Eles iriam separar.
Às vezes famílias inteiras,
Que conseguiram capturar.
Agora se ouviam gritos,
Mas não de preços falar.
E sim da separação,
De alguém familiar.
Quando sentia a voz calar,
Era sinal que o chicote fez-se funcionar.
O mesmo chicote que agora,
A sua vida iria acompanhar.
E a sua cultura viu-se dilacerar,
Pois os seus santos eram negros.
E numa sociedade branca,
Não podia haver lugar.
Mas nem os troncos poderão lhe tirar,
O amor e a música do seu sangue.
Que hoje,
É o que nos brasileiros de melhor há.
Muitos foram para o Nordeste,
A cana de açúcar cortar.
E olhavam de um lado o verde,
E do outro o mesmo mar.
E quantos neste mar,
Não foram mergulhar.
Na tentativa de sua terra,
Conseguir voltar.
E outros nos montes,
Tentaram alcançar.
A mesma liberdade,
Que um dia foram lhe tirar.