O CASO DOS IRMÃOS NAVES, UM GRAVE ERRO JUDICIÁRIO (Parte 2)

O Vieira foi cruel,
Dessa culpa estava certo.
Lambuzava eles de mel
E mandava a campo aberto
Pra lhes infligir o medo.
Amarrados no arvoredo
Sem ter dó, ele castiga,
Pra sofrerem com picada
E também com ferroada
De abelha e de formiga.

Muitos tiros, ameaça,
Pra minar a resistência.
Seus meios, mais que pirraça,
Uma baita intransigência.
A verdadeira extorsão
Resultou na confissão
De crime não cometido.
Perduravam as agruras
De infelizes criaturas,
Seu viver era sofrido.

Ademais, familiares
Como filhos, genitora
Suas mulheres, seus pares
Sentem a força opressora.
Seus algozes são perversos,
Os abusos cruéis diversos
Ocorrem nas ditas celas.
As esposas e Don'Ana,
Vítimas da mente insana,
Abusadas foram elas.

A mãe, Ana Rosa Naves,
Mesmo penando bastante
Com as atitudes graves
Do delegado pedante,
Foi firme pra defender.
Nada, é claro, foi dizer
Contra seus amados filhos
Que viviam na cadeia
Numa cena triste e feia
Qual bandidos maltrapilhos.

Procurava um defensor
A velhinha, sem preguiça.
Conversou com o doutor
Para brecar a injustiça.
Com João Alamy Filho
Viu até certo empecilho,
Pois a versão estatal
Para ele era importante,
Mas mudou no justo instante
Em que viu a mulher mal.

Tiveram muita coragem
E foram perseverantes
Pra tirar da carceragem
Aqueles não-meliantes,
Trazendo à tona a verdade,
Restaurando a liberdade
De quem paga sem dever.
Longe estava o livramento
O final do sofrimento
Não iria acontecer.

Em trinta e oito acontece
O julgamento primeiro.
A verdade já aparece
Na fala de um prisioneiro.
Das torturas os relatos
Deixam bem estupefatos
Os integrantes do júri.
Com seis fotos favoráveis,
Inocenta os miseráveis
Mas nada, porém, que dure.

Período do Estado Novo,
De pouca democracia
E nem sempre a voz do povo
Era o que vigoraria.
Vieira de tudo apronta
E de novo o desaponta
O segundo julgamento.
O placar foi repetido:
Seis a um e absolvidos.
Não finda o confinamento!

Força, nem soberania
O júri não tinha, não.
O Tribunal reveria,
Alterando a decisão.
Condenou a vários anos.
Mais de quinze, pobres manos!
Do Estado era a resposta.
Precisava elucidar,
Um crime solucionar
E por isso a pena imposta.

Inocentes duas vezes,
Mesmo assim encarcerados.
Oito anos e três meses
Para serem libertados
Por condutas exemplares.
Podiam voltar aos lares
Devido à condicional.
Em quarenta e oito morre
O tenente que era um porre
De derrame cerebral.



CONTINUA...


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