UM PEBA PEBADO

Num bom dia, pra sair da rotina,
inventei de caçar no meu roçado
e saí por aí despreocupado,
levando uma espingarda carabina.
Ao chegar na porteira da esquina
avistei um peba muito comprido,
quando fui pegar o bicho atrevido
ele rodou veloz estrebuchando,
bem ligeiro atrás fui cavalgando,
no meio do matagal muito espremido.

Quando o peba se viu encurralado
começou a cavar a sepultura,
cavou mais de três metros de fundura,
saindo em retilínea escavacando.
Eu atrás, o buraco aproveitando,
com a molesta entrei feito o cão,
montado em meu cavalo alazão,
e nesse pega aqui, pega ali,
enfrentei formigueiro e sucuri,
muita falta de ar e escuridão.

Ao passar por baixo do cemitério
deparei-me com mortos descansando,
os vermes os seus corpos devorando,
com apetite sem ter qualquer critério.
Uma coisa quase me tirou do sério,
ao passar por baixo da prefeitura,
eu vi muito dinheiro em fartura,
tinha ouro, esmeralda e diamante,
tinha nota fiscal e o restante
era coisa feita com travessura.

Levou quase dez dias essa peleja
mas, enfim, peguei firme o animal,
que mexia com o rabo e coisa e tal,
não querendo se entregar de bandeja.
“Se é liberdade o que ele almeja,
eu estou aqui sendo o seu carrasco”,
pensei ligeiro, soltando o seu casco,
num momento feliz de lucidez,
pois no mundo a pior estupidez
é brincar com uma vida no penhasco.