BANCO DE AROEIRA

Eu sou muito resistente,
feito de forte madeira,
fui projetado pra ser
de curral uma porteira;
mas por força do destino
fui pra serviço mais fino:
ser banco de aroeira.

Calejadas mãos de escravos
serviram-me de berçário,
não sei qual é minha idade,
dizem que sou centenário;
já escutei muita fala
na mesa grande da sala
de senhor milionário.

Escutei muitas histórias,
segredo e lamentação;
sonhos e dissabores,
choro e muita confusão.
Vi sem qualquer atrapalho
trapacear no baralho
respeitável cidadão.

Um dia me colocaram
no alpendre da fazenda;
de casais de namorados
vi beijos e oferenda;
mas também testemunhei
mandados fora da lei,
rancor e muita contenda.

Já suportei muito peso,
peido de cabra sacana;
já fui cama de vaqueiro
com a cara cheia de cana;
mas não foi só amargura,
vi também muita fartura
na minha terra serrana.

Hoje vivo solitário
coberto pela poeira,
trancado num armazém
no meio da bagunceira;
sem direito a luz do dia
resisto com galhardia,
sou banco de aroeira.