Tio Severino

O meu tio o Severino

Com Iaiar era juntado,

Tiveram quatro meninos

Sem precisar ser casado,

Cultuavam o divino

E eram abençoados.

Assim passaram os anos

E os meninos cresceram,

Casaram, fizeram planos,

Os filhos deles nasceram,

E por debaixo dos panos

Uma idéia abasteceram.

Vamos por o casamento

Entre essa velha parelha,

Obtendo um acalento,

No pesinho da orelha,

Como leve pé de vento,

Em um casal de ovelha.

Vamos preparar uma festa,

Matando um gordo touro

E a vida que lhes resta,

Vai deixar de ser namoro,

E a data que mais presta

É a das bordas de ouro.

Assim dito assim feito,

Convidaram todo mundo,

Delegado e prefeito,

Também padre Raimundo,

Coronel e um sujeito,

Do cartório de Rio Fundo.

Conversaram com a avó

Loguinho ela concordou,

Dizendo fim do catimbó

Que eu não sei quem botou,

Implantaram um grande nó

E por isto nós não casou.

Quando os preparativos

Já estavam terminados,

Tudo feito com os crivos

De todos muito cuidado,

Com um só objetivo

Chamaram os convidados.

Espalhados no terreiro,

No alpendre e na sala,

Comendo boi e carneiro

Em muito e boa escala,

O velho muito matreiro

Em nenhum canto parava.

Chamou a família toda,

Pra saber da maluquice,

O porquê da festa gorda,

Se ninguém pra ele disse,

Digam antes que me morda

E faça alguma tolice.

Vovô o senhor tem razão,

Eu devia ter lhe contado,

Que vamos fazer a união

Por Deus Pai abençoado,

O senhor dá seu coração,

Para ser homem casado.

Queridos netos meu filhos,

Há cinqüenta anos com ela,

Nossa vida é um só brilho,

Sem ter nenhuma querela,

Nunca teve empecilho

Nesta união tão bela.

Na hora que agente casar

Ela muda de repente,

Só ela é quem vai mandar,

Meu café não vai ser quente,

Deixa estar como estar,

Não se metam com agente.

Não façam nenhum esforço,

Eu nunca darei meu sim,

Nem tirando meus caroços,

Pois isto será o meu fim,

Vai subir no meu pescoço

Vai querer mandar em mim.