O MATUTO E O PRACIANO!!!

O MATUTO E O PRACIANO!!!

Quem vive de poesia

Ver situações estranhas

Relata em seu dia a dia

As mais incríveis façanhas

Como o caso incrementado

Que ora vai ser narrado

E logo especifico o plano

Ao qual faço atributo

Citando o broco matuto

E o moderno praciano

O praciano chegou

No mato todo empolgado

E pro matuto falou!!

Sou doutor advogado

O meu nome é Daniel

Sou filho de Emanuel

Um grande criminalista

Mamãe é doutora Ana

Lá em Feira de Santana

Ela é a melhor dentista

Da cidade de Condor

O meu tio é o prefeito

Tenho um primo promotor

Outro juiz de direito

Minha tia é oculista

Vive cuidando da vista

De quem não enxerga bem

Meu avô foi deputado

Meu irmão é delegado

A irmã, doutora também

Moro numa cobertura

No vigésimo quinto andar

Recebendo a brisa pura

Dos ventos que vem do mar

E nesse clima agradável

Dessa vida confortável

Eu nunca irei abrir mão

O meu carro é importado

Novo do ano, zerado

Pois disso faço questão

O matuto admirado

Com tanta modernidade

Ficou sereno e calado

Depois tomou liberdade

E disse assim, muito bem

Cada um mostra o que tem

Não quero lhe atrapalhar

Ouvi tudo e lhe dei crença

Mas, se o senhor der licença

Eu quero me apresentar

Sou Zé de Joaquim Pelado

Minha mãe é Severina

E neto de Biu Calado

Mais de dona Jarmilina

Que eram pais do meu pai

Já sei que o senhor vai

Perguntar os de mainha

Então eu digo primeiro

Vovô foi Mané Ferreiro

Vovó foi dona Zefinha

Só sei trabalhar na roça

No cabo da minha enxada

Sou caboclo da mão grossa

Forte, rude, calejada

Planto milho, macaxeira

Feijão, cará, bananeira

Fava, batata e algodão

De sol a sol estou no eito

Mas vivo bem satisfeito

Nos cafundó do sertão

Meus irmãos são dezessete

E não tem nenhum formado

Ao matuto não compete

Ter estudo, ser letrado

Vou citar minha irmandade

A mais velha é Soledade

Tereza, Joana e Sabina

Joaquim, Cesário e Apolônio

Cosme,Damião,Antonio

Pedro, João e Ambrosina

Ainda tem Sebastião

Luiz, Jacinto e Tomé

Completando a coleção

Eu que me chamo José

Pra mãe mais pai não foi mole

Era muito grande a prole

Sem conforto e no mau trato

Cada um de nós foi criado

Trabalhando no roçado

E comendo caça do mato

Fui criança sem infância

Já sofri com fome e sede

Tratado com arrogância

Dormindo no chão ou em rede

Comendo alimento fraco

Meu cobertor era um saco

Pra não dormir ao relento

Mas sou sertanejo forte

Caro doutor, meu transporte

Nunca passou de um jumento

Mas mesmo assim eu adoro

Essa vida campesina

Gosto do lugar que moro

Sem fumaça e nem buzina

Me acordo de madrugada

Escutando a passarada

Na maior felicidade

Por isso eu digo doutor

Que não invejo o senhor

Nem a vida na cidade

Carlos Aires 03/05/2010

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 03/05/2010
Código do texto: T2235208
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