MEU HERÓI
  SERINGUEIRO


Com a pena da inspiração,
Eu quero pedir licença,
Pra narrar com exatidão,
Por própria experiência,
A vida de um guerreiro,
O nosso herói seringueiro,
Que morre sem recompensa.

O seringueiro trabalhava,
Nas florestas embrenhado,
Arriscando a própria vida,
As vezes sem sér notado,
Sem nenhuma garantia,
Por vezes nas noites frias,
Era ao oficio chamado.

Vestido de calças curtas,
Lá se vai o seringueiro,
Pelo meio da floresta,
A correr o tempo inteiro,
Caminhando pela estrada,
Que muitos chamam picada,
Nesse sertão brasileiro.

Da árvore da seringueira,
Ele tira seu sustento,
Necessário pra família,
Pagava os aviamentos,
Pra isso tinha que cumprir,
E a borracha extrair,
Caminhando mata adentro.

Pra você que não conhece,
Esse sofrido oficio,
Vou contar-lo em minúcias,
Como é o tal serviço,
De cortar a seringueira,
E extrair da madeira,
O seu precioso liquido.

Como todo trabalhador,
O nosso herói seringueiro,
Também tem as ferramentas,
Pra seu uso rotineiro,
Faca, balde e sarrapilha,
Há também outras vasilha,
Pouca tralha companheiro.

O leite era conduzido,
Em um saco defumado,
Encapado de látex,
Com sua boca amarrada,
Assim nosso seringueiro,
Trabalhava o dia inteiro,
Só a tarde retornava.

Quando às vezes já de noite,
Pra completar a diária,
Com o leite em uma bacia,
Acendia a fornalha,
Sufocado pela fumaça,
Pra defumar a borracha,
Eita vida atribulada.

E assim era a lida,
Desse herói desconhecido,
Extrator de um produto,
Da época o preferido,
Enricando os coronéis,
Que ficavam em bons hotéis,
Gozando dos benefícios.

Na venda desses produtos,
Feito pelo seringueiro,
Trocava em mercadorias,
Nem se falava em dinheiro,
O coitado trabalhava,
E a conta sempre aumentava,
Era escravo o tempo inteiro.

Sempre ao final de mês,
Pros campos do barracão,
Mandava o que produzisse,
Sem ter fiscalização,
Entregues no peso bruto,
E o preço de seu produto,
Tinha a menor cotação.

Meu pai foi um seringueiro,
Que veio aqui trabalhar,
Rapaz novo muito jovem,
Do estado do Ceará,
Aqui deixou sua vida,
Nessa profissão sofrida,
Só quem viu pode contar.

O nosso herói seringueiro,,
Vivia na escravidão,
Se reclamasse da carga,
Sofria a punição,
Tinha que contar com a sorte,
Para não sofrer a morte,
Por capangas do patrão.

Meu pai sempre nos contava,
Das agruras que sofria,
O seringueiro que ousasse,
Fazer só o que queria,
No centro dos seringais,
Tratados como animais,
Onde o fraco sucumbia.

Trabalhou num seringal,
Pelo nome de Muqui,
Seringal que tem o nome,
Do rio que também passa ali,
E o seringueiro coitado,
Muitas vezes era atacado,
Pelos índios Suruís.

Vamos deixar esses fatos,
E voltar a Descrever,
De nosso herói seringueiro,
Que veio aqui pra sofrer,
Na ilusão de Enricar,
Vinham seringa cortar,
E tentar sobreviver.

No governo de Getulio,
Durante a segunda guerra,
Milhares de Nordestinos,
Vieram pra essas terras,
Trabalhar nos seringais,
Não retornando jamais,
Aqui sua história encerra.

Era o inicio da saga,
Do conhecido Arigó,
O caboclo nordestino,
Que se arriscava a vir só,
Num posto se alistava,
Um patrão logo arrumava,
Tudo a troco do gogó.

Os Senhores seringalistas,
Contratava um camarada,
Para fazer a cabeça,
Da massa desempregada,
Só em vantagens falava,
E o nordestino embarcava,
Quase sem direito a nada.

Lá se vinha o nordestino,
Desbravar nosso Brasil,
Impinhados nos gaiolas,
Uma espécie de navio,
Vendo o sol surgir na racha,
O soldado da borracha,
De seu estado saiu.

Assim o tempo passou,
Mudou-se a concepção,
E o herói seringueiro,
Que sustentou a nação,
Ficou no esquecimento,
Ninguém sabe o sofrimento,
Que sofreu tal cidadão.

Até hoje ainda existem,
Alguns desses nossos heróis,
Vivendo aqui na Amazônia,
Espalhados entre nós,
Contam das atrocidades,
Que passavam na verdade,
Aqui nesse mundo a sóis.

Deixo minha homenagem,
Ao Valente seringueiro,
Um grande herói anônimo,
Dos quais também sou herdeiro,
Pena que já Nos deixou,
Mas sua história ficou,
O meu herói verdadeiro,

Mozael Crisóstomo Araújo,
O meu herói seringueiro,
Nascido em Baturité,
No nordeste brasileiro,
Estado do Ceará,
Veio aqui só pra deixar,
Sua história de guerreiro.

Autor de uma história real,
Na pele de aventureiro,
Que gastou todos seus dias,
Meu velho pai companheiro,
Nas matas da Amazônia,
No acre e em Rondônia,
Três estados brasileiros.

18/05/2009
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CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 20/05/2010
Reeditado em 27/06/2010
Código do texto: T2267891
Classificação de conteúdo: seguro
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