DESARRENDAMENTO

O vento que te assanha

já não me acaricia;

do contrário, aumenta a sanha

de não te ver mais um dia

e, num tufão, não me afaga;

quebra as velas, me naufraga

e afunda meu bem-estar

lembrando-me teu sorriso,

por isso o quê mais preciso

é que pare de ventar...

Onde estava meu bom senso

ao te arrendar meu peito

acreditando no intenso:

“Vou cuidar dele direito...”

Hoje eu vejo, foi besteira

abrir de cara a porteira

e permitir que você

cultivasse lá a terra

que hoje só mato encerra

vendo tudo esmorecer!

Porém o meu peito é forte,

massudo e ruim de morrer;

é terra preta do norte,

o mais puro massapé,

e passado esse tormento

não mais faço arrendamento

pra ninguém lhe cultivar,

temendo a monocultura

que mata o solo, em que apura,

depois da safra acabar...

João Pessoa, 19/07/2010.