JOÃO BOA VIDA

*CONTO OUVIDO POR LUZIRMIL COIMBRA QUE O TRANSFORMOU EM CORDEL

ATENÇÃO LEITOR: AS VÍRGULAS EXISTENTES EM LUGARES IMPRÓPRIOS SÃO PARA DEFINIR AS TERMINAÇÕES DAS LINHAS EM RIMAS. MINHA MANEIRA DE ESCREVER CORDEL É ESTA. E OUTRA COISA: PARA LERMOS ESTE TIPO DE CORDEL TEMOS QUE TER PRÁTICA. NÃO DEVEMOS EMENDAR CONCORDÂNCIA COMO LEITURA CORRENTE.

PEDRO - O SITIANTE SABIDO

Os fatos que vou narrar, não foi eu que inventei

Ouvi eles de um amigo, que eu muito estimei

Numa prosa descontraída, que atencioso escutei!

Resolvi escrever, porém, usando versos rimados,

Em três linhas por estrofes, consegui este arranjado,

Se alguém já ouviu ou leu, não tenha por plagiado!

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Disse o meu amigo, que havia em um país além

Um rei sábio e honesto, e todos o queriam bem

Mas para ser seus ministros, deveria ser alguém.

Preferia o velho rei, só quem fosse bem cotado

De preferência que tivesse, estudo de apostolado

Pois a igreja demonstrava, que o povo era devotado.

Vai daí, que seus ministros, eram todos nobres padres

Homens santos e obedientes, com estudos aprimorados,

Cada um cumpria a risca, as ordens dos editados!

Por ser boa aquela prática, que ao rei apetecia,

Muitos iam estudar, nos conventos que havia

Para se formarem padres, a profissão que valia.

Dentre aqueles que quiseram, em padres se transformar

Surgiu um tal de João Pedro, sitiante de um lugar,

Que com um seu irmão gêmeo, viviam a trabalhar.

Seu mano era inteligente, e de muita dedicação,

Tinha o nome ao contrario, por uma simples questão

De ser fácil de saber, chamava-se Pedro João!

A dura vida da roça, era mesmo de amargar,

Foi assim que o João Pedro, quis então ela mudar

Foi pois, estudar pra padre, até se bacharelar!

Teve bastante sucesso, num emprego que arranjou

Sua vida de labuta, num descanso se tornou.

Seu irmão Pedro, no entanto, na lida continuou!

Tal era o seu sossego, que João Pedro resolveu

Mudar o seu sobrenome, num outro que escolheu,

Seria João Boa Vida, e no cartório escreveu.

Passaram-se alguns anos, tudo ia muito bem

Até que um dia um padre, com o rei teve um porém,

A rixa tanto cresceu, que o rei saiu do arem!

Fez um decreto apertado, dando sentenças de morte

Pra quem tivesse batina, fosse sul ou fosse norte,

E a todos os seu ministros, mandou prender para o corte.

Com aquilo rei mandou, um matador procurar

Por todos cantos do reino, e com os padres acabar

Imagine o leitor: que injustiça sem par!

Padre João foi o primeiro, que o algoz encontrou

Mas na porta de sua casa, uma frase o impressionou

"Aqui mora João Boa Vida", nome que o bispo aceitou.

O soldado perguntou, à alguém ali presente

Por que é que aquele padre, tinha o nome diferente

O rapaz contou-lhe a história, que o deixou descontente.

Soube que o padre João, tinha a vida sossegada,

Comia e dormia bem, e não lhe faltava nada.

Após passar a ser padre, tinha a vida arregalada.

O soldado matador, achou naquilo um meio

De levar João Pedro ao rei, pois o caso era feio

Com uma maior sentença, João morreria num esteio!

Chegando lá no palácio, logo o rei foi perguntando

-Por que não matou o padre, que contigo está chegando?

O soldado então mandou, que João fosse ali falando,

Contando a história do nome, e da sua boa vida

Assim o rei saberia, dar sentença mais garrida

Por ter tido bom viver, teria morte sofrida.

Quando o rei ouviu a história, sua voz se fez então

-Vou dar a você três dias, de cuidado e aflição,

Se resolver as questões, terás absolvição!

Como primeira resposta, eu quero de ti saber,

Quantos quilos pesa a lua, trate disso resolver,

E me traga o resultado, pra que não venhas morrer!

Mas não fica só na lua, seu completo livramento

Quero também saber, o meu valor do momento,

E como terceira questão, tens que ler meu pensamento!

Vai agora, ó Boa Vida, e me traga o resultado

Se tal coisa conseguires, mudarei o decretado

Você não irá morrer, e nenhum padre degolado!

O padre João Boa vida, pra sua casa voltou,

Passou dois dias tentando, resolver o que levou,

Mas nada ele conseguiu, até que desanimou.

Tendo o ânimo caído, foi procurar seu irmão

Para deixar-lhe os seus bens, como herança em sua mão,

Pois ele iria morrer, com os padres da nação!

Contou a história a Pedro, que ficou admirado

-Ora, você é um padre, foi por Deus designado,

Nós dois somos parecidos, vamos fazer um trocado.

Eu visto sua batina, e você fica em meu lugar

Tome conta de nosso sítio, se eu nunca retornar,

Eu vivo aqui sofrendo, vou morrer e descansar!

Mesmo tendo de João Pedro, uma contra posição

Pedro João foi pra cidade, cumprir aquela missão

Dar a vida pra salvar, a dos padres e do irmão.

Depois de passar três dias, o carrasco lá chegou

Para cortar seu pescoço, foi a ordem que levou

Mas o padre João Boa Vida, o golpe dele barrou.

Atestou valentemente, que havia resolvido

Os enigmas que o rei, a ele tinha incumbido

O rei teria que ter, seus relatos aos ouvidos.

Foi assim que o carrasco, tive então que levar

O padre até o palácio, para o rei o escutar,

Os problemas resolvidos, e pudesse opinar!

Na presença do monarca, este logo foi falando,

-Como é, ó padre João? vai logo desembuchando,

Qual é o peso da lua, diga, estou esperando!

-A lua pesa cem quilos, pude isto constatar!

-O que? você está louco, mando já te degolar!

Como pode tal besteira, vir para um rei falar!

Mas disse o suposto padre, - Veja bem, ó majestade,

Minha teoria é certa, não existe outra verdade,

Mas se alguém apresentar outra, minha vida já vai tarde!

Se um quarto é vinte cinco, ninguém pode se opor

Os quatro quartos da lua, deu o peso do valor,

Somando perfez cem quilos, mande lá um aferidor!

-Padre, você é sabido! Eu não posso argumentar,

Mas a segunda resposta, dela não vais escapar

Pois o valor de um rei, ninguém consegue atinar!

-Se for vossa majestade, vou dar o valor certinho

São vinte nove moedas, das pratas do seu cofrinho

Isto por que és um bom rei, seu valor é bem altinho!

-Como ousas, ó padre João, tão baixo dar meu valor!

Tenho mil quilos de ouro, no palácio a meu dispor,

E me avalias em vinte e nove, moedas que não tem cor!

-Ora, pois, senhor augustus, seu valor é elevado,

Só uma a menos que Cristo, por trinta avaliado!

E Ele foi Rei dos Reis, num dos maiores reinados!

-Você é inteligente, disse o monarca na hora!

Fiquei muito contente, com a resposta de agora,

Adivinhe meu pensamento, e já podes ir embora!

-Esta questão é a mais fácil, de uma resposta lhe dar,

O senhor está pensando, que está a conversar,

Com o padre João Boa Vida, mas posso isto questionar!

-Ora você não é, o folgado padre João?

-É o que vos está pensando! porém não sou ele não!

Meu nome certo é Pedro, e do padre sou irmão!

-Fica assim resolvido, seus problemas proclamados,

Me desculpa se tomei, do meu irmão os cuidados,

Mas ele por ser um padre, tinha que ser poupado!

-Muito bem, meu caro Pedro, - disse o rei naquela hora

Quero tê-lo em meu palácio, sem haver muita demora,

E quero ver seu irmão, pra atestar esta desora!

Foi assim que João Boa vida, foi salvo por seu irmão

Foram morar no palácio, mas com outra profissão,

Ds padres o rei só queria, ter do pecado o perdão!

João Boa Vida e Pedro, mudaram lá para o paço

Por serem inteligentes, tomaram conta do espaço,

Ajudando o bom rei, governar sem embaraço!

E ainda se casaram, com donzelas do palácio!

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Termino aqui a história, pedindo a alguém perdão

Pois não foi uma invenção minha, só fiz uma arrumação,

De uma prosa que ouvi, de um homem ancião!

Talvez haja um romance, ou até mesmo cordel

Ou outro tipo de escrito, com esse mesmo arretel

Mas se acaso houver, é coincidência de papel!

Posso até autorizar, o seu nome aqui apor

Porém conservando o meu, como mero ajeitador,

Duma história que eu gostei, de um roceiro vencedor!

*CONTO EM PROSA, CONTADO POR JUVENIL NUNES (ITIRAPUÃ), EM OUTUBRO DE 1962, QUE OUVIDA POR LUZIRMIL COIMBRA, O TRANSFORMOU EM CORDEL RIMADO