Quando as Flores Caem

Meu momento é tão plangente

como o outono no meu vale

sem a flor da primavera

não há mais alguém que fale

para mim neste momento:

- Bardo punge este lamento

passará e tu te cale;

pense um pouco que o tormento,

este teu vale infinito

o fará crescer assaz

e serás um ser bendito,

complacente e inefável,

para todos adorável...

Tudo isso tenho dito!

Mas pra quem está instável

entre a dor e um pensamento

que não traz nenhum futuro,

caminhando contra o vento,

a alegria não parece

ser razão para uma prece

ter fanal, conhecimento.

O meu siso, então, fenece

em tormento e grande ais

com a brisa deste outono

que congela a minha paz,

faz-me néscio, ébrio, louco,

e de tudo faz um pouco

e do muito, muito mais!

Solitário em ermo, rouco

permaneço aqui silente

cogitando mais derrotas

como faz muito da gente,

que qualquer verbo de luz

será sempre a minha cruz,

pois no agora sou descrente.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 20/08/2010
Código do texto: T2449076
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