O mundo sem poesia

Quero sempre expressar

o esplendor da natureza

mas a tal modernidade

corrompeu sua pureza

impedindo que ela seja

testemunho de beleza

Vendo rios e florestas

se acabando em agonia

inquieto e pasmado

me pergunto todo dia

o que faço do meu estro

num lugar sem poesia?

Como vou me inspirar

na sujeira de um rio

que a sua correnteza

joga sobre o baixio

misturada com o óleo

que vazou de um navio?

Como vou ser um poeta

se eu sei que a imagem

da espuma do riacho

avistada de passagem

é bonita num poema

e não é na paisagem?

Como posso descrever

os primores da natura

se eu só vejo na cidade

uma prosa obscura

que o lixo é o borrão

e o grafite é a rasura?

Só me sinto cerceado

preso em uma vertigem

vendo tanto ingazeiro

recoberto de fuligem

escondendo aquele viço

que existia na origem

Toda vez que eu estou

procurando por um tema

com o fim de traduzir

em linguagem de poema

posso até falar em flor

sem resolver o dilema

Se me ponho a versejar

com a verve do momento

avistando a minha rima

no azul do firmamento

lembro cada poluente

carregado pelo vento

E só sei falar em gás

que no ar fica disperso

em veneno entranhado

em rejeito submerso

como alerta sem efeito

rascunhado no meu verso

Carlos Alê
Enviado por Carlos Alê em 23/08/2010
Reeditado em 08/01/2015
Código do texto: T2454285
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