A festa do ridículo

O desmantelo do mundo

está muito evidente

e pra dar uma idéia

da decadência vigente

vou contar o que eu vi

em uma data recente

Se na forma de vestir

a cidade muda o uso

do jeito que a coisa vai

nesse mundo tão confuso

vamos ver que o bom gosto

vai dar lugar ao abuso

Porque sendo convidado

pra uma festividade

eu cheguei à conclusão

que o povo da cidade

faz inversão de valores

com a tal modernidade

A brincadeira da festa

era cada convidado

se vestir de uma forma

que ficasse engraçado

e o leitor já vai saber

como foi o resultado

No salão me recebeu

uma moça que vestia

jardineira estampada

de cores em demasia

que não dava pra saber

se era roupa ou fantasia

Deparei com um rapaz

de bermuda e cachecol

com chinelo havaianas

e meião de futebol

com um casacão de lã

e nas mãos um guarda-sol

E a moça do seu lado

lembrando uma japonesa

com um quimono xadrez

que foi feito sem despesa

pois o pano era cortado

de uma toalha de mesa

Reparando o vestuário

que usava outra menina

notei que o seu turbante

cheirava à naftalina

e o desenho do vestido

era igual o da cortina

Vi um moço conversando

que vestia jaquetão

uma boina modernosa

bota preta e cinturão

Mas no peito um babador

e por baixo um fraldão

Um outro estava ali

de avental e pijama

e não dava pra saber

no desenrolar da trama

se chegava da cozinha

ou se ia para cama

Ao lado dele estava

uma garota frajola

de colete salva-vidas

por cima da camisola

duas luvas de borracha

e uma enorme cartola

Vi moça de sobretudo

maior que seu manequim

calçando no pé direito

um vistoso escarpim

contrastando o outro pé

com surrado borzeguim

Vendo esse figurino

lembrei naquele momento

de um anúncio que eu li

promovendo um evento

de moda e alta-costura

que seria um portento

Decidido a conhecer

a tendência atual

da moda na sociedade

anunciado no jornal

eu saí daquela festa

e fui até o local

E chegando no lugar

comprei logo o ingresso

e fui sentar na cadeira

que me dava o acesso

para ver na passarela

as modelos de sucesso

Mas quando elas passaram

quase fiz uma careta

e só não saí correndo

pra manter a etiqueta

Parecia que as modelos

chegavam de outro planeta

E cheguei à conclusão

diante da circunstância

do que vi na passarela

que a tal da elegância

precisa de muito pouco

pra virar extravagância

Carlos Alê
Enviado por Carlos Alê em 10/09/2010
Reeditado em 01/08/2011
Código do texto: T2490294
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.