Como derribei o marco da divisão

Eu sempre ouvia falar

no Marco da Divisão

construído para ser

uma fortificação

para a cantoria ter

apenas um campeão

O poeta que ficasse

nesse forte alojado

por colegas da viola

não seria derrotado

porque nunca se veria

seu castelo derribado

Porém quando o encontrei

não vi uma grande obra

e para o derribar

tinha talento de sobra

O leitor já vai saber

como findou a manobra

Pra chegar nesse castelo

uma floresta escura

precisei atravessar

aceitando a aventura

com sua fauna selvagem

testando minha bravura

Um enxame de abelhas

de uma colméia gigante

apareceu no caminho

para mim não ir adiante

Enfrentei até leão

um urso e um elefante

Eu vi as garras do urso

e os dentes do leão

Nas abelhas furiosas

em cada uma o ferrão

juntos com o elefante

vindo em minha direção

As abelhas já estão

no meu sítio dando mel

Foi preciso aumentar

as flores do meu vergel

pois a colméia gigante

produz geléia a granel

Eu já deixei o leão

em um parque da cidade

Em um circo itinerante

o urso é a novidade

Nem parece que um dia

mostraram ferocidade

Do elefante africano

já digo qual foi o fim

Ele está domesticado

e comendo amendoim

E depois que o vendi

só fiquei com o marfim

Mas saindo da floresta

avistei a fortaleza

com arqueiros escondidos

nas ameias pra defesa

Resolvi ali fazer

um ataque de surpresa

Descobri que o castelo

por um fosso era cercado

e com muitos jacarés

só com dente afiado

pra impedir o cantador

de chegar do outro lado

Esse fosso perigoso

eu atravessei nadando

e cada um jacaré

que perto ia chegando

só com golpes de peixeira

um a um fui liquidando

Chegando na outra beira

eu já tinha um boné

uma luva em cada mão

e uma bota em cada pé

tudo isso costurado

com couro de jacaré

Os sentinelas me viram

chamando a artilharia

eram cinquenta arqueiros

para cada bateria

que lançava suas flechas

caprichando a pontaria

Antes de ser atingido

usando só um martelo

dei uma forte pancada

na muralha do castelo

sacudindo a estrutura

feito vara de marmelo

Os arqueiros assustados

fugiram em disparada

e deixando a fortaleza

totalmente abandonada

não ficou nenhum vigia

protegendo a entrada

Na frente desse castelo

tinha um pesado portão

mas o pontapé que dei

foi um tiro de canhão

Só deixei a lenha seca

empilhada ali no chão

E entrando no castelo

não achei o construtor

Por certo tinha fugido

pra não ver o vencedor

Nem foi preciso testar

meu estro de cantador

Conforme fui avisado

procurei por um gigante

que estaria no castelo

e era forte o bastante

para ser um defensor

perigoso e atuante

Encontrei só um anão

que para mostrar o zelo

dava golpes acertando

apenas meu tornozelo

Era daqueles que o pé

não alcança o escabelo

Derribei todas paredes

dessa rude construção

A torre botei abaixo

dando só um empurrão

Só ficaram as ruínas

do Marco da Divisão

Do que foi a fortaleza

não restou nem a metade

Entre todos os poetas

não há mais rivalidade

No lugar já levantei

o Marco da Amizade

E nesse novo castelo

se promove a cantoria

Tem poeta declamando

ou cantando em parceria

mas no fim do festival

quem vence é a poesia

Carlos Alê
Enviado por Carlos Alê em 14/09/2010
Reeditado em 12/05/2011
Código do texto: T2497431
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