O quartel dos bichos

No reino da bicharada

Onde o rei é o leão

Também existe um quartel

Um curioso batalhão

Que mostro para vocês

Nessa breve descrição

Nos serviços do quartel

O mocó é o rancheiro

Cururu é capelão

Mucura é o armeiro

Caititu é motorista

E o peba corneteiro

O timbu é estafeta

O bode é o barbeiro

O porco é o doutor

O preá é enfermeiro

O coelho é o dentista

O quati é tesoureiro

Na banda do regimento

Texugo é o regente

Que decide o repertório

E é muito exigente

Por gostar de perfeição

O ensaio é freqüente

Quem toca os instrumentos

Ele escolhe com rigor

Botou guariba no sax

Serelepe no tambor

Coala no bombardão

De todos é professor

Botou pra tocar tarol

O talentoso bugio

O sagüi toca o surdo

E recebe o elogio

No bombo está o mico

Para completar o trio

O tapiti está nos pratos

O ouriço no clarim

O jegue no clarinete

O pavão no tamborim

O macuco no trompete

No fagote o guaxinim

Essa banda do texugo

Às vezes é convidada

Para tocar em eventos

Ou em festa animada

Mas toca solenemente

Quando é dia de parada

Leitor, chegou a hora

De ficar aqui exposto

Sem esquecer nenhum

Quem ocupa cada posto

O escalão militar

Como é que está composto

O cachorro é o cabo

O cavalo é o sargento

Eles zelam pela ordem

Conforme o regulamento

Conhecem todos soldados

Porque dão o treinamento

Depois tem o Jacaré

No seu posto de tenente

Tem boa graduação

Só que não está contente

Sempre trabalha pensando

Em subir uma patente

No quartel da bicharada

Javali é capitão

Sendo muito respeitado

Por todo o batalhão

O soldado desordeiro

Ele manda pra prisão

O coiote é o major

Também é oficial

O guará era soldado

E chegou a general

Obedece o jaguar

Que é o seu marechal

Agora digo quem é

Que trabalha de soldado

O ganso e o peru

Tem um passo atrapalhado

e quando estão marchando

Vai um para cada lado

O tatu é mensageiro

No pelotão do tapir

Sabe que o sentinela

Não pode se distrair

Mas quando está na guarda

Tem vontade de dormir

O coturno bem lustroso

É preferência do rato

O carneiro acha melhor

Acampamento no mato

O marreco gosta muito

De passar trote no pato

Quem prefere a leitura

É o recruta castor

Na noite fria estuda

Embaixo do cobertor

E da sala de jogos

Não é um freqüentador

O macaco é um praça

Que não gosta da rotina

Nunca é um voluntário

Para fazer a faxina

Quando avista o sargento

Se esconde na cantina

O calango e o teiú

Quando finda a semana

Pegam o primeiro trem

E viajando à paisana

Vão visitar as amadas

Lagartixa e iguana

O sapo e o jurumim

O galo e o camaleão

Papa-vento e gabiru

O lagarto e o furão

Esquilo e pacuçu

São do mesmo pelotão

Agora que apresentei

Nesse rápido relato

Cada bicho do quartel

E seu posto correlato

Ainda falta falar

De um curioso fato

O ingresso no quartel

Que foi o mais engraçado

Foi do gato voluntário

Para ser mais um soldado

Ninguém sabia dizer

Quem o tinha convocado

O cabo disse ao gato:

- Só quem pode decidir

É o sargento cavalo

Pra ele eu vou pedir

Que aceite o engajamento

Espere ele me ouvir

O sargento quando soube

Falou ao cabo em surdina:

- Esse vai nos dar trabalho

Sem respeitar disciplina

E se der um mal exemplo

Vai ser a minha ruína

O cavalo não queria

O gato por desafeto

E foi pedir ao tenente

Um juízo mais correto

Pois assim o jacaré

É quem daria o veto

O tenente jacaré

comentou aperriado:

- Acontece que o gato

Sempre foi muito folgado

E quando anda parece

Com um jabuti cansado

O tenente decidiu

Falar com seu capitão

Pois deixaria pra ele

Resolver toda questão

Não perderia do gato

A sua admiração

O javali não gostou

E achou até jocoso

Na rotina da caserna

De regime rigoroso

Ter um soldado com fama

De ser muito preguiçoso

- Sua vida é procurar

Um lugar para dormir

Ninguém pode calcular

Se as ordens vai cumprir

Mas sua ida pra reserva

Eu não quero decidir

O capitão javali

Foi falar com o major

Pra ver se ele fazia

Uma idéia melhor

Do bicho mais indolente

da floresta ao redor

Acontece que o major

Tinha certeza que o gato

Mal entrasse no quartel

Ia fazer desacato

Que a fama do felino

Era mais que um boato

- Esse gato já foi visto

Brigando com guaipeca

E cantando em telhado

Fanhoso como rabeca

Sua vida é procurar

Um lugar para soneca

Então o major coiote

Foi falar ao general

Que era o superior

Pra ver se dava o aval

E o gato não pensar

Que era questão pessoal

O guará disse ao major

Que não podia aceitar

Quem a vida na caserna

poderia desonrar

Só podia ser um erro

Lá da junta militar

- O gato quer fardamento

Para impressionar a gata

Vai voltar do acampamento

Contando muita bravata

Nem quero no regimento

Quem corre de vira-lata

Foi pedir ao marechal

A sua autorização

Pois já estava alistado

O gato em seu batalhão

E era o jaguar que tinha

A maior graduação

Recebendo o pedido

O jaguar ficou contente

Pois sentia muito orgulho

Do gato ser seu parente

E assinou o documento

Pra ele ser combatente

O guará foi avisar

Para seu subordinado

Que o ingresso do gato

Já estava aprovado

E na sua opinião

Seria o melhor soldado

E o coiote também

Sem nenhuma discussão

E sem perda de tempo

Ordenou ao capitão

Que ele desse ao gato

Ingresso no batalhão

O javali acatou

A ordem da autoridade

Dizendo até que o gato

Tinha muita agilidade

E que nunca duvidou

Da sua capacidade

O jacaré concordou

Que o gato tinha futuro

Quando fizesse patrulha

Enxergaria no escuro

E todo acampamento

Estaria bem seguro

O cavalo comentou:

- Na carreira militar

O gato será notável

Um soldado exemplar

Fazendo parte da tropa

Ele vai se destacar

O cachorro avisado

Reconhecendo o fato

Carimbou o documento

Afirmando que o gato

Já por ser um felino

Era combatente nato

E aquele batalhão

Tinha um novo soldado

Que foi no primeiro dia

Por todos elogiado

E foi assim que o gato

Um dia foi recrutado

FIM

Carlos Alê
Enviado por Carlos Alê em 15/09/2010
Reeditado em 23/11/2011
Código do texto: T2499164
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