Trem da Vida

Tic...tic...lá vai o Trem da Vida,

apesar de lotado até não poder,

animando e olhando adiante

quem mais vai subir e seguir

e a Banda do Universo compor,

em vozes uníssonas, tão afinadas

que não perturbem a paz reinante.

Primeiro subiram as Águas,

esticando Montanhas e Pedras

para, candorosamente deitarem

e se amoldarem aos entulhos,

que do banho precisavam

e pediam massagem agreste

para retribuirem com beijos.

Encarecidamente rogavam:

-Em troca de minha frescura,

não acrescentem poluição

a turvar minha translucidez,

preciso ser o espelho sincero

que sempre reluz cada Coração,

Lua, Andorinha e até Pensamento.

Foi quando um transeunte

de testa franzida se encolheu

intrigado com o funesto cigarro

fumegando na venta das águas,

poderosas, maroladas e lisas,

que cobravam incisivas a solução:

-fumo nojento ou nós nesse trem.

A toc toc de marcha ...OPA!

era o vento derrapando nas Águas,

cacheando seus cabelos deitados,

procurando uma praça no Trem

onde Areia e Água se abraçavam

para nenhuma escapulir,

como o passageiro ventado.

Águias, Formigas, Elefantes,

uma Arca de Noé multiplicada,

depois que o Bosque chegou

era quase perfeita a folia,

banana para o macaco,

perfume para as acácias

e sons diretos da Benção.

Convidados todos entrando

na Orquestra da harmonia,

cada qual com sua lira, harpa,

entoavam vozes familiares,

brincavam de vida e respeito,

mestre e sábio que ensina,

mas castiga o mau aluno.

O maquinista era a Paciência,

que todos assistia sorrindo,

certo que ordem não falta

a quem divide o mesmo quinhão

e com sua buzina de gorjeios

acordava os passageiros

para engordar seus vagões.

Eis que se aproximou o sol,

na fimbria dourada escrito

que brilho não mata ninguém

que semear bons hábitos,

preservando pura a atmosfera,

aplaudido de pé pela nuvem

que adora permanecer alvinha.

Os auxiliares do maquinista,

cognome Paciência, eram Anjos

que chegaram dançando

e rápido se engajaram à turma,

acalmando os eufóricos,

ora animando os apáticos,

tudo ao tempero correto.

Parecia pequeno, não era,

os Céus inteiros couberam

com sua nostalgia misteriosa,

dentro do trem que voava

co’as largas asas libertas,

arrebanhando os transeuntes

que se perdiam nos desertos!

Hão de cismarem com razão:

-é proibido Homem neste trem?

pois o único fumante s’escafedeu,

pressionado pelo bom senso

para entrarem só as maravilhas,

que não param de fecundar,

instante a instante.

Melhor se ausentarem,

se for para enervar a Terra

morrendo em vulcão,

destruir Mares chorando erosão,

matar Fertilidade doente na fome,

melhor se internarem na Esperança

e antes curarem suas almas.

O trem da Vida vida não divide,

ao contrário, entrelaçando pedaços

complementa suas carências,

nada encurta, ganha o tamanho da fé,

à medida que consciências acordam,

libera as ações comunitárias,

milagres faz e eterniza!

A Orquestra tocava esplêndida

e parou! Eram HOMENS entrando,

medo e autoridade misturados,

pretensão e descrença.Silêncio!

Tão necessários e vitais,

vale a pena esperá-los maturarem

para a sinfonia se tornar imortal?

Assim foi o último estribilho,

com suas notas esganiçadas,

do agudo gritado ao grave silenciar,

e depois à quietude que ora e espera,

dando chances infinitas

para o eterno humanizar

seguir o Trem da Vida.

Santos-SP-27/09/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 27/09/2006
Código do texto: T250781