DE CABO A RABO

Embarquei naquele trem,

Do jeito melhor que me convém,

Todo apertado lá no meio,

Sentindo a dor e o receio.

Porem estou acostumado,

Em me mexer de todos os lados,

Olhando o vulto da carência,

Repercutindo até a demência.

E lá vou eu de "cabo a rabo,"

Um dia em pé e outro sentado,

Fazendo careta e sendo surrado,

Pelo cansaço sem meu agrado.

Depois à frente a estação,

Que até parece um dragão,

Soltando fogo pelas ventas,

E eu fugindo das tormentas,

Que aparecem em um piscar,

Eu peço a Deus pra mim chegar.

Somos farinha do mesmo saco,

Queremos apenas um aparato.

E lá vou eu de "cabo a rabo",

Um dia em pé e outro sentado,

Fazendo careta e sendo surrado,

Pelo cansaço sem meu agrado..

Sou estudante de Mogi,

Trabalhador do Mandaqui,

Gente da terra da garoa,

Onde a cidade se amontoa.

Enquanto uns tem condução,

Eu vou de trem e de busão.

Somos farinha do mesmo saco,

Queremos apenas um aparato.

E lá vou eu de "cabo a rabo",

Um dia em pé e outro sentado,

Fazendo careta e sendo surrado,

Pelo cansaço sem meu agrado.....