O FIM DE GARGALINHO - longuíssimo cordel
O meu cavalo marchava, pela estrada empoeirada
Um sol quente abrasava, a brisa estava parada
Eu seguia pra Gardalena, numa missão complicada.
O alazão estava cansado, pois já havia algum tempo
Que marchava sem parar, sem comer mesmo um rebento,
E até sem beber água, portanto estava sedento.
Pra quem olhasse as plagas, parecia um deserto
Mas de vez em quando havia, o cerrado a céu aberto
No estado de um país, sem ter um caminho certo.
Minha vida era ligada, a trabalho da justiça
Sempre do lado da lei, a qual eu seguia a risca
Trabalhava para o estado, delegado de polícia.
Pensava nas aventuras, das quais já participara
Quantas lutas e combates, pelo mundo já achara
Sempre a serviço do bem, muita gente eu livrara.
Pois a má sorte tirei, de quem tinha adversidade
Também combati ladrões, que infestavam cidades
Por isto eu era estimado, em muitas comunidades.
Pra minha sobrevivência, eu viajava abastecido
Levava de carne seca, um embornal abastecido
E farinha de mandioca, para um virado aferido.
Mas em meu pensar de aventuras, também havia o amor
Pois um homem solitário, no coração só tem dor
E a saudade judia, de um aventureiro sofredor.
Na marcha logo avistei, um pequeno povoado
Seria o arraial ao qual, eu estava destinado?
Falei para o alazão: vamos ver se é o procurado!
Meu cavalo compreendeu, minha linguagem falada
Mais depressa ele andou, e logo demos chegada
Era umas três da tarde, quando apeei na calçada
Indo logo ali num bar, ao um servente perguntei
-Aqui é Gardalena? onde agora cheguei?
Sim amigo, é aqui mesmo, uma cidade sem lei.
-O que você quis dizer, “De uma cidade sem lei”?
Ele então respondeu, isso eu disse por que sei
Que tem um tal Gargalinho, que manda aqui como um rei.
Ele judia dos pobres, e só sabe fazer maldade
Veio não sabemos de onde, e sempre está na cidade
Tem por perto uma fazenda, pra nossa adversidade.
Dos pequenos tira as terras, e quem tem algum vintém
Ele vai atrás do tal, e tira o que tem também,
E até nosso delegado, já mandou para o além!
Interessei-me em saber, toda a história contada
Pois eu sentia nos fatos, minha missão começada
Seria naquele arraial, minha primeira empreitada?
Me informei o mais que pude, dos fatos acontecidos
Narrou-me, pois o rapaz, tudo que tinha sabido,
Disse que dias atrás, no bar a tal tinha ido,
Bebeu e fez alvoroço, e quebrou até cadeiras
-Deu-me muito prejuízo, e falou muita besteira
Tive que fechar o bar, para não fazer sujeira.
Eu sou pobre – disse o moço - só tenho esse barzinho
E para ganhar o pão, eu trabalho aqui sozinho
E fui ameaçado de morte, pelo tal de Gargalinho
Outro dia aconteceu, um caso inusitado
O Gargalinho ultrajou, a mulher de um soldado
Um fato que nunca houve, nem mesmo em todo estado!
Mesmo a mulher gritando, e tendo grande aflição
Levou ela em seu cavalo, e fez grande aberração
Encontraram ela morta, perto de um barracão.
Outro fato aconteceu, foi com uma criança
Cujo pai tinha um sítio, aqui pela vizinhança
E Gargalinho queria, tirar dela sua herança!
Matou o pai e a mãe, e ainda fez judiação
Dizem até que Gargalinho, é irmão do Lampião
Todos tremem quando ouvem, seu nome numa questão!
Esses fatos que citei, são constantes e corriqueiros
Gargalinho já esteve, comandando os cangaceiros
E matou vários soldados, lá no forte de Brejeiro.
Dizem que o governador, não acha mais solução
Pois ninguém tem a coragem, pra encarar a questão
Dizem que não há homem, que liquide o valentão!
No momento refleti, sobre a minha missão
Fui mandado pelo governo, pra investigar a questão
E alguns acontecimentos, que assustavam a população.
O rapaz ainda me falou: -vejo que não és daqui
Tome cuidado com ele, pra não te ver por aí,
Pois forasteiro pra ele, tem valor de abacaxi.
Ele não dá permissão, pra estranho aqui ficar,
Se alguém chega, ele logo, manda os capangas capar
E depois pela estrada, manda o cara se mandar.
Fiquei meio impressionado, com aquilo que ouvi
Mas falei para o rapaz, eu vou ficar por aqui
Quero conhecer o homem, pois penso que nunca o vi.
Procurei uma pensão, mas não quiseram me atender
Pois estranhos na cidade, quem acolhia tinha a ver
Pois o tal de Gargalinho, fazia povo tremer.
Sem lugar para ficar, tive a resolução
Eu não iria embora, sem resolver a questão
Pois pelo que eu entendi, era ali minha missão.
Armei uma barraquinha, num terreno abandonado
Soltei o meu alazão, num pastinho ali ao lado,
Mas logo alguém me disse, que eu ia ser degolado.
Pois estranhos na cidade, não podem ficar um dia
Quanto mais passar a noite, pro Gargalo era ousadia
Ele certamente iria, matá-lo sem parceria.
Mas não liguei para o dito, que ouvi alguém falar
Fiquei sentado numa pedra, deixando as horas passar
Mas logo eu fui dormir, pois queria descansar.
Tudo estava quieto, naquela imediação
As pessoas ficavam longe, com medo da reação
Pois viram quando chegaram, cinco jagunços do cão.
Ao saberem que um cara, viera da capital
E que estava ali dormindo, pois gostara do arraial
Foram a sua procura, pra cumprir o ritual
Conseguiram me encontrar, quando o dia amanhecia
Atacaram minha barraca, quando ainda eu dormia
Me acordaram dando chutes, que me deu até azia.
Com risadas de hienas, foram para mim falando
Como ousaste ficar, neste arraial pernoitando
Tu não sabes que o Gargalo, aqui está comandando?
Pegue seu galo de briga, só o cavalo não vai
Você vai embora a pé, o animal é do pai
Pois gostei desse alazão, para o gargalo ele vai!
Sem questionar eu peguei, minhas coisas na mochila
Tomaram minha carabina, e uma faca de serrilha
Saí com muito cuidado, rumando ao fim da vila.
Estavam em quatro caras, dando grande gargalhada
Atiraram para o chão, pra eu dançar na calçada
Dei pulos, pois minha hora, não era ainda chegada.
Mas a coisa não parou, pois ao andar dois quarteirões
Os capangas me cercaram, portando grandes facões
Disseram que eles teriam, que cortar os meus tendões.
Logo me deram uma reiada, com tamanha covardia
Aquilo fez minha raiva, surgir como ventania
Segurei a ponta do reio, e mostrei-lhe a magia!
Com muita velocidade, ataquei sem lhes dar tempo
Eles não esperavam, do imprevisto movimento
Me apossei de um dos facões, e fiz picado a contento!
Matei os quatro em segundos, dormiram sonos fatais
Não contavam com um golpe, que fui treinado demais
Algumas pessoas disseram, é louco esse rapaiz!
O meu ser aventureiro, com aquilo despertou
Por a lei no arraial, meu espírito rogou
Minha missão seria ali, pois governo mandou.
Escondi-me dos jagunços, que chegavam em profusão
Ajeitei os meus revólveres, trinta e oito de canhão
Para enfrentar os bandidos, com minhas armas na mão.
Os jagunços que chegaram, pensando que eu era besta
Não me viram escondido, dentro de uma grande cesta
Em forma de um balaio, de onde eu vi a coisa crespa.
Ao ver perto um jagunço, lacei-o com minha corda
Era a mesma que eu usava, quando havia alguma torda
Pra laçar algum boi bravo, que aparecia na borda
Derrubei assim o cara, e tomei o seu cavalo
Logo procurei o meu, seguindo aquele entalo
O alazão me conheceu, logo saímos no embalo
Eu muito queria ver, aquele tal Gargalinho
Para tanto eu teria, que saber onde era seu ninho
E medir com ele forças, pra tirar seu passarinho!
Seguindo por uma rota, da qual tive a indicação
Ao olhar para trás, tive admiração
Pois dez capangas já vinham, pra me tirar da questão.
Mas adentrei no cerrado, que ali era fechado
Liberei o alazão, dizendo-lhe pra ter cuidado
Despistar os bandoleiros, eu ficaria emboscado.
Quando o penúltimo passou, sob a árvore que eu subira
Joguei o laço no último, e o ergui na sucupira
Dei-lhe um golpe na nuca, e o amarrei com embira.
Tomei sua roupa e chapéu, e a vesti no momento
Depois fui atrás do bando, com cuidado e temendo
Tendo porém a aparência, do que ficara morrendo.
Naquela agitação, ninguém me reconheceu
Procurava falar pouco, e quando o dia amanheceu
Eu já estava pousando, onde era o destino meu.
Fiz uma boa vista, de toda aquela paragem
O dia estava chuvoso, mas fazia uma aragem
Me dando tempo pra fazer, meu plano de abordagem.
Gargalinho estava sério, numa estranha viração
Pois soubera que seus asseclas, tiveram uma questão
Com um forasteiro estranho, que matara seis peão
Segundo o que ele soube, o cara era aventureiro
Tinha um jeito de esperto, talvez fosse um viageiro
Conseguiu escapar do bando, indo praquele roteiro.
-Ele já deve estar, por aqui - disse um ao Gargalo
Então tratem de encontrá-lo, disse ele com entalo
Procurem pelo cerrado, e até dentro do valo,
Ele continuou falando: - Como houve essa mancada?
Dizendo assim me chamou, - Ei, vem cá Zé da Estrada
Tu estavas em Gardalena, venha contar-me a piada.
Se eu falasse no momento, eu seria reconhecido,
E iriam me estranhar, vi perigo percebido
Acenei que a garganta, me deixara enrouquecido.
Falei como se estivesse, tendo séria rouquidão
Fazendo sombra no rosto, com o chapéu e com a mão
Pois se me descobrissem ali, não teria nem caixão!
No momento ele disse: -Ze da Estrada está gripado
Vá para o teu chatão, por hoje estás dispensado
Mas quero todos vocês, atrás do tal condenado!
Saí dali de mansinho, fui direto para o chatão
Lá eu tracei um plano, pra fazer a distração
E acabar com o poder, daquele cara de cão!
Mas quando eu estava ali, alguém lá chegou gritando
Encontrei o Zé da estrada, no cerrado agonizando
Gargalinho arrepiou, e deu ordem para o bando:
Cerquem o quarto do Zé, pois o rouco está lá dentro
Eu bem que desconfiei, pois tinha cheiro de quentro
É tempero de comida, de quem come ao relento!
Porém eu desconfiei, do cara que vi chegando
E rapidamente eu saíra, depois a porta fechando
Me escondi numa moita, e fiquei lá aguardando.
Gargalinho quando soube, que dali eu me safara
Deu ordem pra capangada, que daria uma nota rara
Pra quem me entregasse, vivo ou morto e sem a cara!
No tempo em que fiquei, junto aos homens peçonhentos
Dos planos de Gargalinho, eu tive conhecimento
Era fazer de Gardalena, um forte de armamento.
Pra defender a maconha, que plantava na região
Papoula pra cocaína, produziam de montão
Traficava para o mundo, tóxico para o povão!
A maldade do camarada, era mesmo sem tamanho
Imperava em sua mente, ambição de grande ganho
Para ter a riqueza ilícita, matava sem ter acanho!
Quando eu estava no ermo, entre o capim amoitado
Vi na observação, os capangas atarefados
Me procurando com gana, vasculhando adoidados.
Um veio na direção, onde eu estava deitado
Ao se aproximar da moita, eu fiquei preocupado
Por pouco que o camarada, não tinha ali me pisado!
Minha sorte me ajudou, ele logo seguiu seus passos
A noite estava chegando, ia o dia no espaço
Vi montarem em seus cavalos, e fiquei sem embaraço.
Meu alazão me seguira, até as imediações
Montei quando não vi, ninguém nas imediações
Logo eu estava seguindo, pra fazer outras ações.
O Gargalinho seguira, junto aos seus camaradas
Todos a minha procura, numa ação combinada
Ele queria tirar, forasteiros da parada
Saí daquela fazenda, Falando com o alazão
Vamos para Gardalena, pra resolver a questão
Nos capangas e no Gargalo, eu preciso por a mão!
Cavalguei pelo cerrado, e como agir, ia pensando
Ao chegar em Gardalena, devem estar me esperando
Pois descobriram que eu, era mesmo contra o bando!
Arranjei um bom bigode, para mudar de feição
E troquei o meu chapéu, por um boné de algodão
E ajeitei uma bengala, pra cumprir minha missão.
Cheguei depois ao povoado, como um pobre andarilho
As pessoas me olhavam, sem desconfiar daquilo
Já que um trocado pra todos, eu pedia em estribilho.
Mas levava escondido, dois trinta e oito munidos
E fizera um relatório, de tudo que tinha havido
Pra inteirar o governo, do que eu fora incumbido.
Ninguém sabia que eu era, delegado federal
Que a mando do governo, fui para aquele arraial
Para atender um arrogo, e tirar dali um mal.
Minha vida de aventuras, sempre fora vitoriosa
Para defender a lei, comigo não tinha prosa
Em tretas que eu entrava, dos nove eu tirava a prova.
Entrara naquele caso, com um grande fundamento
Pois tratava-se de tirar, de um povo o sofrimento
Implantado por um homem, da ambição um detento!
Mas poucos eram os que sabiam, que ele era um traficante
Além do mal que fazia, era um terrível implicante
Junto de seus capangas, maltratava os habitantes.
Foi assim que eu cheguei, como pedinte de esmola
Tendo minha bengalinha, e meu boné de cartola
Onde eu pedi comida, me mandaram para escola,
Pois havia la a sobra, de comida da criançada
E todo que pedia esmola, ficava lá na calçada
Lhe serviam o alimento, sua fome era saciada.
Fui então pra tal escola, mas fiquei impressionado
Os asseclas do Gargalo, a mesma tinha assaltado
E num antro de bandidos, eles a tinham transformado!
No momento estavam ali, oito capangas armados
Eu teria que matá-los, pra começar o recado
Mas fazê-lo a traição, não era do meu agrado,
Estudei a possibilidade, de ali ter uma cela
Assim eu pudesse prendê-los, se caíssem na esparrela
Mas se caso reagissem, virariam mortadela
Tive idéia de entrar, batendo minha bengala
E como se fosse um cego, carregava minha mala
Quando me virem eles riram, mas logo perderam a fala.
Ei ceguinho! Como entraste, sem que tenhas a visão?
Vamos contigo acabar, pois sofres nesse mundão
Dizendo tirou um trinta e apontou em minha direção.
Atirou pra me matar, mas eu já estava deitado
Com os dois berros na mão, soltando fogo dobrado
Fui rápido em meu ataque, transformei-os em finados!
Seis balas foram certeiras, em meu primeiro ataque
Com mais seis também dei cabo, fazendo meu tic e TAC
A escola se transformou, num lugar sem ter escape!
De forma alguma eu deixaria, algum bandido escapar
Fizeram as malvadezes, e teriam que pagar
Indo para a cadeia, ou morrendo no lugar.
De quarenta e dois capangas, que contava o Gargalo
Eu tinha matado dez, só no primeiro embalo
E se eles não se rendessem, eu ia cortar no talo!
Consegui vencer a guerra, que houve ali na escola
O ceguinho já não ia, imitar quem pedia esmola
Dali para frente no caso, iria por uma escora!
Em meu pensar eu devia, cumprir aquela missão
Levar paz e harmonia, ao povo da região
Se fosse preciso, eu teria, que enterrar o Gargalão
Estava ali atrás da parede, no sentido de me proteger
Quando vi mais quatro deles, pela rua a correr
Vindo pro lado da escola, pra de certo me abater.
Quando me perceberam, começaram a atirar
Mas eu estava abrigado e foi fácil revidar
Matei os quatro na hora, com pontaria sem par.
Pela nova matemática, que o povo assustava
Daquela corja malvada, vinte oito ainda restava
Eu teria que ser esperto, se não um me liquidava.
Mas até que a féria foi boa, pra dois dias de caçada
Passei por alguns perigos, mas estava na parada
Acabando com os bandidos, que fazia a brigada
Sempre atento ao movimento, que me cercava na hora
Um bandido apareceu, para entrar na escola
Atirei para matar, com um tiro na cachola.
Mais três apareceram, para cortar meu pescoço
Mas eu estava decidido, a não sair daquele posto
Pois os jagunços estavam, na cidade em alvoroço.
Mas havia muito perigo, de ali ficar abrigado
O melhor seria eu sair, porém com muito cuidado
Pois ao menor descuido, eu seria baleado.
Assim com muita astúcia, fugi da situação
Novamente como um cego, com a bengala na mão
Assim andei pela rua, como fora da questão.
Os que sabiam quem eu era, mortos se encontravam
Pois lá no fundo da escola, com a morte depararam
Porém num descuido meu, quase me acertaram.
Era um bandido entocado, que começou a gritar
Avisando os comparsas, que eu não podia escapar
Que eu não era nada cego, eles iriam comprovar
Atiraram pra valer, mas de todos e safei
Saí correndo abaixado, minha pele eu livrei
E entrei num novo abrigo, que por perto encontrei
Mas quatro deles armados, foram em minha direção
Mas se arrependeram tarde, quando viram o clarão
O meu trinta pipocou, os mandou pra escuridão!
Outro dois com esperteza, me atacaram de lado
Mas com rapidez atirei, e deixei eles deitados
Para o povo da cidade, enterrar no povoado!
Meu boné havia furado, com um tiro que tomou
Meu bigode se soltara, com uma bala que raspou
Mas com meu trinta embalado, a luta continuou.
Pela minha matemática, vinte e dois ainda restavam
Com o tal de Gargalinho, minha vida eles caçavam
Mas eu estava preparado, e pronto os esperavam!
Para enfrentá-los na rua, eu estava animado
Isso aconteceu com seis, ali num bar aninhados
Dei-lhes ordem de prisão, mas atiraram pra meu lado
Mais usei de rapidez e logo me abriguei
E com muita agilidade, nos seis eu atirei
Todos tombaram com as balas, que para eles mandei.
A noite estava chegando, daquele dia pesado
Quando eu vi à distância, um certo aglomerado
Parecia ser pessoas, comentando algum achado!
Eu sondei as cercanias, e procurei me esconder
Pois as pessoas que vi, queriam também me ver
Eram oito dos bandidos, que queriam me deter.
Eles falavam entre si, do havia acontecido
Muitos capangas morreram, com o que tinha ocorrido
Desde que um pistoleiro, tinha ali aparecido
Para chamar-lhes a atenção, eu atirei uma pedra
Todos se prepararam, mas levaram uma esfrega,
Com meu trinta não dei tempo, matei todos na refrega.
Liquidei com onze deles, só uma bala sobrou
Eu faria um relatório, com aqueles que somou
Mas faltavam onze ainda, que Gargalo contratou.
A cidade ficou limpa, mas eu tinha que cuidar
Assim fui para a fazenda, pra poder ainda lutar
Com o restante da gangue, que não queria se entregar.
No caminho avistei, no horizonte um poeirão
Percebi que eram os bandidos, que vinha com a missão
Me matar no povoado, era ordem do patrão
Percebendo aquele fato, do alazão apeei,
E atrás de uma árvore, no cerrado me abriguei
E quando eles passaram, a voz de prisão eu dei.
Mas simplesmente das armas, sacaram na mesma hora
Mas eu estava preparado, e tinha boa memória
Fui mais rápido no gatilho, mais três saía da história.
Depois daquela refrega, pra fazenda eu segui
Ainda havia oito, foi o que concluí
Para que eu terminasse, minha missão por ali!
Chegando na tal fazenda, ela estava deserta
Resolvi ficar por lá, porém com a porta aberta
Certamente os bandidos, chegariam em hora certa.
Por três dias eu fiquei, até cansar de esperar
Mas quando eu ia sair, vi dois deles chegar
Não quiseram se entregar, tive pois, que os dois matar.
Indo então para Gardalena, para saber da questão
Encontrei dois no caminho, mas resistiram à prisão,
Diante do ocorrido, dei-lhes um fim de perdição!
Mais um ainda encontrei, pela estrada em que ia
Aquele se entregou, pois morrer ele não queria
Amarrei-o e o conduzi, para o arraial da via.
Quando cheguei ao povoado, levando o tal Chicão
O povo queria linchá-lo, pois fizera danação
Matara uma pobre moça, na maior judiação.
Batia em todo mundo, como fosse o superior
Do Gargalinho ele era, como um seu protetor
E do bando considerado, o maior atirador.
Precisei dizer ao povo, que eu era delegado
Pus o emblema do governo, para ali ser respeitado
Pois Chicão a julgamento, teria que ser levado.
Ainda que descontente, mas o povo aceitou
Prendemos o meliante, na cadeia ele ficou
Mas no momento uma treta, alguém ali aprontou.
Enquanto eu conversava, eu tive uma distração
E senti que algo frio, me tocou num cutucão
Era um dos bandoleiros, com um revólver na mão.
Eu senti um calafrio, mas não perdi a confiança
Quando ele apertou o gatilho, eu já estava com a pança
Bem colada ao chão, com meu trinta bem na mancha!
Uma mecha de cabelo, do sujeito era branca
A bala entrou certeira, na cabeça do retranca
A mancha ficou vermelha, e o cara foi pra barranca!
Dos quarenta e dois bandidos, do Gargalo contratados
Que matavam muita gente, e faziam seus babados
Só restavam Gargalo e outro, que dava dor em meus calos!
Mas houve um entrevero, entre eles num arenga
Atirando um no outro, deram o fim daquela prenda
Que eu tentava levar, pro governo como renda!
Por fim eu levei Chicão, o único sobrevivente
Coloquei ele no trem, entregando-o ao tenente
Que chegara pra levar, do Gargalo o contingente.
Mas por eles serem maus, e não deram rendição
Liquidei quarenta e um, livrando a população
A fazenda do Gargalo, foi parar em um leilão!
As somas arrecadadas, foram ali distribuídas
Para as famílias que Gargalo, as faziam oprimidas
Foi uma grande vitória, no arraial, minha ida!
acróstico final
Livre ficou o arraial, para em memória ficar
Unidos, aquele povo, haverão de recordar
Zelo que um delegado, teve pelo lugar
Impondo a ordem e respeito, porém teve que matar
Realmente na vitória, houve aquele mal estar.
Mas nada teria ocorrido, se tivessem se rendido
Inclusive o Gargalinho, poderia ter vivido
Levando uma vida boa, e no lugar ser querido!
FIM - COMPOSTO POR LUZIRMIL