UMA PROFISSÃO DE FÉ
Quem quiser lugar no céu
Escolha uma profissão
Que ganhe pouco dinheiro
Tendo muita obrigação
Trabalhando noite e dia,
Sem ter carta de alforria,
Parecendo escravidão.
Ter um sorriso na mão
Quando a tristeza é premente
Esquecer problema em casa
E fingir que está contente
Distribuir seu carinho
Corrigir o desalinho
Vindo em figura de gente.
Tratar cada diferente
Como sendo sempre igual
Mesmo tendo percebido
Quão diverso e natural
É seu meio de labuta
Com tanto filho da luta
Sem ter qualquer ideal.
Olhar para o social
Resolver cada problema
Passando às vezes por louco
Ser parte do seu dilema
E formar o cidadão
Além de passar lição
Com dedicação suprema.
Deixar de ir ao cinema
Para trabalhar em casa
Estender sua rotina
Mesmo tendo o corpo em brasa
Superar toda doença
Pautado naquela crença
De que nada disso atrasa.
Apesar do que lhe apraza
Esquece da própria vida
Desprezando a diversão
E sua velha guarida
Para voltar todo intento
E a força do pensamento
Em prol da gente querida.
Às vezes toca a ferida
Do cliente adoentado,
Que rejeita tratamento
E cospe pra todo lado,
Mas feito um médico d’alma
Utiliza toda calma
Só para vê-lo curado.
Tratar de mal educado
No puro e real sentido
É uma parte do carma
Do seu fazer dolorido
Cuja principal essência
É ter muita paciência,
Para poder ser ouvido.
Posar de desentendido
Ante eventual ofensa
Colocando o seu trabalho
Acima do que ele pensa
Faz parte da sua lida
E da performance tida
A cada refrega intensa.
Sem ter idéia pretensa
Do valor que acumula
Carrega um fardo pesado
Como se fosse uma mula
Mas o transforma em leveza
Ao transmutar, com nobreza,
Quem dá coice, rincha e pula.
Exercendo, sem firula,
Com criação e coragem,
Transforma o seu ambiente
Em centro de aprendizagem
Onde o mestre que hoje entende
É quem de repente aprende
E ensina a simplicidade.
Ser repleto de humildade
É outro caminho aberto
Na direção do divino
Que mostra quando está certo
Pois quando quer fraquejar
Deus aumenta o labutar
Para deixá-lo mais perto.
Quando quer ser mais esperto
E trabalhar a metade
Deus, fiel, dá um jeitinho
De ir para a Universidade
Com aulas em redução
Mas tendo em compensação
Muito trabalho à vontade.
Vê disponibilidade
De muito material
Mas terá por outro lado
Cada produto final
Tendo uma avaliação
Na pesquisa, uma extensão,
E no ensino, um sinal.
Tem um fiscal virtual
Travestido em um sistema
Que faz da vida do cara
Seu mais importante tema
E para saber, aprenda,
Que nestes dias arrenda
O seu viver ao cinema.
Pode gritar, mas não gema,
Esse é o novo ditado
Registre todo trabalho
Para não ser rebaixado,
Porque não tendo isso feito
Vai poder virar sujeito
Às margens do predicado.
Se não tiver publicado
Qualquer coisa de valia
Deixa de ter assunção
Conforme o que se avalia
Não tendo assim promoção
Que valorize a função
Da sua categoria.
No auge dessa agonia
Volta a sorrir soberano
Lembrando de que está perto
Faltando menos de um ano
Para cumprir a promessa
De valorizar à beça
O fato de ser decano.
Não ser um mero fulano
Faz do desejo incontido
O fato, em si, de ensinar
Um ponto alto atingido
Levando o grande consolo
Do ingrediente do bolo
Que fez ao ter aprendido.
Jamais se pensando ungido
De plena sabedoria
Sabe saber muito pouco
De tudo que pretendia
Mas faz da vida uma escola
Que ensina, mas não controla,
O gosto da freguesia.
A cada raiar do dia
A profissão apresenta
Muito mais dote incluído
Além do que se comenta
Com seu presente apontando
O modo em cada educando
Visto por quem orienta.
É profissão que alimenta
Quem tem fome de saber
E deve ser consciente
De que para vir crescer
De uma maneira integral
Tem que ter profissional
Depois de formar seu ser.
Precisa também viver
Ouvir a bela canção
Entoada pelos pássaros
Às margens de um ribeirão
Pois fazendo esse percurso
Vai pós graduar-se em curso
No reino da salvação
Com grande satisfação
Defino nesse louvor
Um ser que sofre e se alegra
A cada novo labor
Com sua missão cumprida
Confundindo a própria vida
Com seu fazer: professor!!!!.......