MEU ENCONTRO COM JOÃO DA RUA - cordel e prosa

O CAMINHANTE - A SEGUIR A PROSA

Foi numa tarde de sol, com o arrebol a esquentar,

Eu seguia numa estrada, quando resolvi descansar,

Mas para tanto eu teria, que uma sombra encontrar.

Fui dando assim meus passos, numa contínua cadência

Olhando lá no horizonte, se havia uma sequencia

De árvores beirando a via, e de sombra uma dispensa.

Mais uma milha eu andei, quando além eu percebi

Embora fora da via, linda árvore por ali,

Saí pois da estrada, e para ela segui!

Ao chegar, porém eu tive, um certo descontentamento

Pois já havia uma pessoa, talvez ali, ha algum tempo,

E pela sua aparência, eu tive um desalento!

Suas pernas demonstravam, estarem muito feridas,

Contorcidas e aleijadas, assim as vi parecidas.

E seus olhos tinha um brilho, como tendo pouca vida!

Um tanto desapontado, procurei ali saber,

O que foi que lhe ocorrera, se podia me dizer?

Fi quando ele falou, que gostaria de entender!

Pois nascera aleijado, e pobre como um cão,

Vivera vinte e seis anos, sempre com dor e aflição,

E via falar que Deus, punha nele a atenção!

Mas até aquele dia, só vivera tempestade,

Onde estaria Deus? que diziam ter bondade?

Mas que o ignorava no mundo, em sua adversidade?

Tive pena do rapáz, e fiz ali pensamentos,

Um turbilhão de idéias, possou-me em poucos momentos,

Justamente a um peregrino, foi ele encontrar no tempo!

Diante de sua desdita, só me restava explicar

Sobre a existência do mundo, e de quem nele vive a habitar,

Citando que a índole humana, tem penas aqui a pagar!

Mas como iniciar um assunto, que viesse a satisfazer,

Aquele pobre aleijado, há muito tempo a sofrer,

Já que palavras ou conselhos, ele não ia entender!

Mesmo meio atribulado, para dar-lhe explicação,

Mas comecei a história, falando da criação,

Da raça humana na terra, muito antes de Adão!

Se o leitor achar por bem, e quizer saber os fatos

Acompanhe a entrevista, que em prosa fiz no ato,

Explicando ao rapaz, do primeiro ao último ato!

PROSA DO CORDEL

Era uma tarde de sol quente em que eu seguia por uma estrada, numa região central de Minas Gerais, quando resolvi parar para um descanso. Entretanto eu teria que encontrar uma sombra, haja vista o calor reinante.

Fui dando assim meus passos, numa contínua cadência

olhando lá no horizonte, se havia árvores dispostas à beira da rodovia. Na observação notei que havia uma, mui frondosa, porém na campina, um tanto além da cerca que se interpunha entre a via e o pasto.

Tendo o propósito de descansar e até tirar uma sesta em sua sombra, transpus a cerca e me dirigi para a bela árvore; porém fiquei decepcionado ao perceber que sob ela havia um rapaz que parecia estar dormindo.

No momento pensei em me afastar silenciosamente e continuar minha jornada até encontrar outro local para meu descanso. Ocorreu que ao tentar fazê-lo fui percebido pelo rapaz, que notando meu afastamento disse:

-Ei, amigo. O que pretendias fazer por aqui?

-Ah! Você está acordado? Desculpe-me eu não sabia que havia alguém sob esta árvore; eu a vi desde a estrada e pretendia tirar uma sesta em sua sombra.

-Ora, faça-o! Não vou lhe incomodar. Mas digo-lhe que estou aqui a espera da morte!

Fiquei momentaneamente impressionado com suas palavras. Olhando melhor percebi que ele era paraplégico: tinha a perna esquerda um tanto retorcida. Na observação pude então notar um par de muletas nas proximidades, conotando com a necessidade que certamente ele tinha para se locomover. Parecia também, que estava muito fraco.

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