Declaração pra Dadá

O matuto, mas matuto daqueles matutos mesmo, tá parado no meio do salão mais agoniado do que cachorro quando quer obrar... Querendo se declarar entorna três quartinhos de cana de cabeça e se atrepa no primeiro toco que acha no meio do salão. Alevanta os braços, se balança no centróide corpóreo e, dando duas tapas no peito pra chamar a atenção do povo, se desemboca a bradar:

- Quando é chegado o tempo

A gente acorda a contento

Como que o coração

Tivesse o pressentimento

De que chegou o instante

De abandonar o lamento

Quando se chega o momento

A tristeza não vigora

E sobre o velho jardim

Um novo jardim aflora

À luz do dia mais belo

Na cor da mais bela aurora!

Pois quando se abate a hora

A gente sente no ar

E de repente o espelho

Reflete no nosso olhar

Um brilho que só existe

Em quem vai se apaixonar!

Por isso pude notar

Que chegou a minha vez

Pois depois que vi Dadá

Esbanjando polidez

Meu olhar cintilou tanto

Que a noite se desfez!

Que ao me olhar Dadá fez

Com que eu me superasse

E da cova do sofrer

Sorrindo eu me levantasse

Foi Dadá que imprimiu

Esse riso em minha face!

E sem ter o que disfarce

Todo bem qu’ela me dá

Eu inventei esta graça

Pra declarar pra Dadá

Que mulher igual a ela

Nesse planeta não há!

Chegue Dadá, vem pra cá

Vem ficar juntinho deu

Vem pra fazer companhia

A esse jeitinho teu

Que já fincou moradia

Cá dentro do peito meu!

João Pessoa, 21/11/2010.