NUMA CASA DE TÁIPA NO INVERNO...- Cordel Matuto

NUMA CASA DE TÁIPA NO INVERNO...

Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

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Num tem fome, nem mêrmo disispêro,

numa casa de táipa, no inverno.

Tem riquêza isprituá, surriso eterno,

tem a festa silvestre in seu terrêro.

Tem galinha ciscando o dia intêro,

tem o peixe do açude do patrão,

na panela de barro, tem fêjão,

lá na jarra, água cristalina e pura,

na cabôca, tem tôda fôimusura,

qui é a coisa mais bela do sertão.

Uma jinela prá dento do currá,

um aipende, cum tôrno de aimá rêde,

a cangáia, num canto de parêde,

e o jegue, isperando, mode usá.

Tem quaiáda, na hora do jantá,

a foguêra, na frente da latada.

O cabôco, na viola afinada,

dá o recado, tremendo de emoção,

cum seus verso, qui sai do coração,

para o peito de sua doce amada.

Tem retrato de tudo, in todo canto,

ispingarda, bisaco e tamburête.

Na cunzinha, ais panela e um trinchête,

e oração, prá tirá quaiqué quebranto.

Pade Ciço, amisturado cum ôtos santo,

lá na sala, cumo é cunsiderado.

Frei Damião, na foto, santificado,

representa, do matuto, a sua fé,

da cunzinha, vem o chêro do café,

quando aquêle recinto é visitado.

No aipende, adispôi da rêde aimada,

se vê o bríi dais istrêla e suas luz.

Lindo quadro, pintado p’ru Jesus,

para aquela famía abençoada.

E a prosa, no aipende ô na latada,

é gostosa e animada; seu minino.

Nessa casa de taipa, o distino,

é amostrá; não a sêca e seu inferno,

mais uis fruito do tempo do inverno,

p’ru matuto da gema; nordestino.

Lua cheia, o quilaro do luá,

derramando sua prata puro chão,

faiz o cabra pegá seu violão,

ô a viola caipira e pontiá.

Sua deusa, vem logo se ajuntá,

na piquena fugêra improvisada.

No vistido de xita, prefumada,

ela incanta seu véio trovadô,

qui in acorde, declara seu amô,

prá sua musa, in verso, idolatrada.

Do ôto lado da casa, no acêro,

o furdunço, logo demenhãzinha.

É dais cabra, do pôico e dais galinha,

do bodête, qui já é pai de chiquêro.

Se avista a água do barrêro,

ais marreca, ais garça e uis méigúião.

O cavalo de sela do patrão,

se fartando, feliz, no capinzá,

tudo isso, se vê, pode apostá,

nessa casa de táipa, no sertão.

Nêsse tempo, ao meno, essa morada,

num tem fome e nem necessidade.

Êsse mar de totá felicidade,

é uma fase, p’ru todos, desejada.

A ordenha, cêdíin, de madrugada,

oração, prá a Jesus, agradicê,

sariema cantando ao só nascê,

passaríin a cantá na aivorada,

diz qui a casa de táipa é abençoada,

in mais um promissô amanhincê.

No meu verso amatutado eu procramo,

qui no inverno, alí só tem felicidade.

Essa casa é um tisôro, de verdade,

nais caatinga, qui eu tanto; tanto amo.

Tem pogréssio in tôdo e quaiqué ramo,

tem tombém a belezura da donzela,

qui na luz do intardicê, fica mais bela,

isperando o dono do seu coração,

cumpretando a paisage do sertão,

machucando o peito virge na jinela...

Autor: Roberto Coutinho da Motta.

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do RN.

Da União Brás. de Trovadores-UBT-RN.

Do Inst. Hist. e Geog. do RN.

Da Com. Norte-Riog. de Folclore.

Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.

Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP.

Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.

E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br

Site: WWW.bobmottapoeta.com.br

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Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 27/02/2011
Código do texto: T2818595
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