Maria e Alfredo

MARIA E ALFREDO

Maria levantou-se cedo

Foi-se pra Vila do Sossêgo

Encontrar-se com o Alfredo

Que estava sem a aliança no dedo

Ela pediu segredo

E caiu na estrada sem medo.

Ela não quis saber de prosa

O Alfredo a deixou nervosa

Tudo por causa da Rosa

Que era uma morena formosa

Dizem que ela era dengosa

E gostava de um vestido de roda.

A Maria tirou a aliança

Foi-se pro baile e caiu na dança

O Alfredo ficou na esperança

E ciumento como ele é... na ignorância

Muita gente na festança

E ele naquela distância

Alfredo pegou o três oitão

Montou-se no alazão

Foi-se pro bailão

Resolver a situação

Na bala ou no facão

Tudo pela sua paixão.

Ao chegar no forró

Encontrou o Belchior

Cantando em dó

Junto com o Curió

Na sanfona o Dodó

Que marcava pro Mororó.

Tomou uma cachaça

Mostrou sua raça

E começou a pirraça

Dançando com a Graça

Depois com a Márcia

Fazendo negaça.

A Maria dançadeira

Rodava à sua maneira

Alfredo na ciumeira

Quis acabar com a brincadeira

Subiu numa cadeira

E começou a Ciumeira.

Deu um tiro pro alto

Só via nego no salto

Correndo pro asfalto

E até os músicos do palco

Ajudaram o Adauto

Embriagado no álcool.

Somente ficou a Maria

Que na maior calmaria

Olhava pro Alfredo e dizia:

- Alfredo dêxa disso pra que tanta hipucrisia

Eu que diveria ficá nessa gritaria

Cadê a aliança que ocê me jurô um dia?

Vamo Arfredo me ixprica

O mutivo da ciumaria

Ocê dano bola para a Rosa

De prosa na maió aligria

Jugô inté a aliança fora

Foi muitia covardia.

Mas o Alfredo se arrependeu

Pelo erro que cometeu

Ao ver que ao lado teu

Só a Maria permaneceu.

Logo da cadeira desceu

E a valentia se escafedeu.

Ajoelhou-se aos teus pés

Como um escravo no convés

Ela contou até dez

Perdão ele pediu ao invés

E como testemunha de fé

O bom amigo moisés:

- Foi tudo um male intindido

Eu tinha a aliança pirdido

A Rosa tava cumigo

Pode preguntá a ela

Pra mode dá um sintido

Pois num mereço o castigo.

Maria eu te amo

A ti sempre cramo

Em meus sonhos te chamo

Vamo pro artar,vamo?

Somo da laranja os gomo

E ocê sabe como.

Ao ver a calmaria

O Curió desconfiado

Lá atrás do paiol

Mororó ainda cansado

Chamava pelo Dodó

Que estava no cerrado.

Ao ver a cena de amor

Não teve quem não aplaudiu

Foi ali naquela festa

Que a paixão explodiu

Um romance abençoado

Num lindo mês de abril.

O Mané fogueteiro

Iluminava o céu

A cada estouro um vivaaaaa!

O Alfredo cumprindo o papel

Maria feliz da vida

Chorando olhava pro céu.

Alfredo se emocionou

Em teus braços a tomou

Maria se arrepiou

E os teus lábios beijou

O galo logo cantou

E o forró continuou.

A Rosa chegou contente

Encontrou a aliança do inocente

O Alfredo ficou sorridente

E viu a Maria reluzente

Feliz e saliente

Feito um peixe na enchente.

Dançaram a noite inteira

Até raiar o dia

O casal era o assunto

Na casa da D. Abadia

De lá foram marcar o casório

Na capela da Virgem Maria.

Foi um lindo casamento

Comentado nas redondezas

Que até o vento

Espalhava aquela nobreza

Digno de uma realeza

Espantando a tristeza.

Dizem nas corrutelas

Que foi uma festança daquelas

E tinha muitas donzelas

E lindas flores amarelas

Teve até vuvuzelas

Pra anunciar a mais bela.

A Maria jogou o buquê

Tudo se alvoroçou

E com muita felicidade

Foi a Rosa quem aparou

E logo o Moisés chegou

E sorridente ficou.

Quem tem amor tem sorriso

E sai pelo sertão com o guizo

Planta paixão com juízo.

O ciúme foi preciso

Como disse o padre Anísio:

- Maria e Alfredo no paraíso!

Tinga das Gerais

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 03/03/2011
Reeditado em 11/11/2017
Código do texto: T2826566
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.