Ribanceira

Ribanceira.

Guel Brasil.

Era manhã de setembro

O dia estava nublado,

Meu pai estava no eito

Arrancando macaxeira,

Que há tempos tinha plantado.

Mãe levantou-se cedinho

Antes de o galo cantar,

Fez café, bolo de puba,

Tirou leite de mimosa

Pra depois nos acordar.

Levantei-me apressado

Só de ouvir mamãe chegar,

Fui buscar água na fonte

Ali pertinho de casa,

Alegre a cantarolar.

Quando voltei, tudo pronto

Ali na mesa quentinho,

Leite, café, bolo de puba,

Vi papai vindo do eito

Tocando seu jumentinho.

Minha irmã, toda vaidosa

Com seu vestido de chita,

Também se levantou cedo

E eu fiquei reparando,

Como ela era bonita.

Tinha um pouco de mamãe,

Outro tanto do meu pai;

Eu era acaboclado puxei vovó e vovô

Mulato, cabelos lisos,

São marcas que nunca sai.

Ali éramos felizes

Com as belezas do lugar,

E ouvia papai dizer

Que seu maior pesadelo,

Era um dia ter que mudar.

E a velhice inevitável

Tratou de moldar seu jeito

E trouxe junto a mudança;

Viveu fugindo da morte

Mas a morte é trato feito.

Mãe foi se embora primeiro

Com doença matadeira,

Meu pai morreu de tristeza;

Fiquei eu e minha irmã

Cuidando da ribanceira.

Ribanceira era o nome

Daquele canto adorado

Com quatro alqueires de terra;

Hoje é um canto esquecido

Na memória do passado.

guelbrasil@gmail.com

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 24/03/2011
Código do texto: T2868052
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