Lampião

Estou aqui minha gente,

vim fazendo alarido,

pra vos falar francamente,

de quem nunca foi bandido:

ele foi cabra valente

como tantos já nascido.

Conforme diz a história,

assassinaram seus pais,

família simples sem glória

e humildes por demais:

cuidavam dos afazeres

e viviam em plena paz.

Pra vingar seus genitores,

ele virou justiceiro.

Cansado dos malfeitores,

decidiu ser cangaceiro;

pois o sangue em suas veias,

fervilhava o tempo inteiro.

Quando saía aos arredores

da vila, onde morava,

ele via muita maldade,

com as quais não concordava:

quanto mais maldade via,

mais e mais se revoltava.

E, numa dessas andanças,

conheceu Maria Bonita,

a paixão lhe veio ao peito

e deixou sua alma aflita;

falou pro marido dela:

vou levá-la, nem que grita.

Assim foi dito e feito,

ele a levou embora,

o marido, bom sujeito,

até hoje inda chora

de saudades da amada

e tão prendada senhora.

Ela, toda enamorada,

deixou o pobre na mão,

e foi por outra estrada,

nos braços de Lampião:

muito feliz e contente,

num lombo de um alazão.

E se foram, ele e ela,

juntamente com o bando,

se embrenharam nas caatingas,

só saiam de quando em quando:

apenas pra ter notícias,

do que estava se passando.

Até que, infelizmente,

a volante os encontraram,

e em cima daquela gente,

suas armas dispararam:

Lampião e Maria Bonita,

para sempre se calaram.

O que mais me causa espanto

e me põe aborrecido.

O Lampião nunca foi santo,

mas também não foi bandido:

na verdade foi herói,

de um povo tão sofrido.

Aqui vai se aproximando,

o final deste cordel.

Lampião e Maria Bonita,

estão vivos lá no céu,

e um anjo me contou:

que estão em lua de mel.

E agora meus leitores,

vou comer o peixe atum.

Temperado com licores,

com farofa e jerimum:

Deus proteja vocês,

e também Roberto Jun.

Roberto Jun
Enviado por Roberto Jun em 18/04/2011
Reeditado em 14/02/2017
Código do texto: T2915620
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.