O MEU RIMANCEIRO * O bípede

O registo desta história

que lhes vou aqui contar

encontrei-o na memória

dum acervo popular.

Era um quadrúpede astuto,

por entre as gentes andando,

de todos o mais enxuto

dos quadrúpedes do bando.

Um dia, alguém lhe assestou

um pontapé no focinho.

Assustado, se empinou,

dorido, a fazer beicinho.

E, assim, bípede ficou,

bendizendo a dor e o dano,

pois, agora, diz: eu sou,

como vocês, ser humano.

Quantos bípedes quejandos

andam, neste mundo, ufanos,

fazendo crer que seus bandos

são também seres humanos?

José-Augusto de Carvalho

3 de Abril de 2007.

Viana do Alentejo * Évora * Portugal

Da colectânea em construção: «Que viva o cordel!»

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 30/04/2011
Reeditado em 03/03/2018
Código do texto: T2940306
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