O CASAMENTO DA DOROTÉIA

Fui home pra sete muié, mais cada quá de u’a vêiz

(Airam Ribeiro)


Quem tempo aqui tivé

E priguiça tomÉm nun tê

A históra das sete muié

Qui a Hull ta quereno sabê

Taí contada procêis

Agora xegô a sua vêiz

É só cumeçá a lê!


Cuma nun vô min alembrá

Da minha muié Dorotéia?

Era u’a muié doce pra daná

Cuma um favo de corméia

Daquele meu casamento

Inda ta no pensamento

Meu grande amô pur Tetéia.


Tetéia era cuma eu xamava

Nas minha intimidade

U’a muié pura queu amava

Antis de ir pra eternidade

Morreu nova mais dexô

Seis fizinho seis amô

Para a minha filicidade.


Um casamento cum véu

Naquele vinte e um de maio

Onde os rojão lá no céu

Estorava sem da trabaio

Foi mermo uma epopéia

Meu casamento cum Tetéia

A muié dos meu insaio.


Aos meu fios qui ficô

Eu dava muitios carinho

Dediquei o meu amô

A eles dento do ninho

Mais de noite a solidão

Inrriba do meu coxão

Num min dexava sozinho.


Já cansado de sofrê

Cum essa triste solidão

Um dia cunicí a Berê

Na mercearia do seu Betão

E papo vai papo ia

Nois marquemo um dia

Pra cuiecê meu coxão.


Dias depois a Berê

Veio cumigo falá

Sua barriga tava a cescê

E foi o jeitio nóis casá

Casemo o fio nasceu

Mais de parto ele morreu

Dexô trigemo preu criá.


E os trigemo intão cresceu

Cum outros seis queu já tinha

O tempo foi só passano e eu

Arranjei outra muiezinha

Foi no dia de São Sebastião

Qui ganhei seu coração

O nome dela era Zefinha.


Cum ela fiquei treis ano

E foi trêis fio nesse tempo

Um dia tive um dizingano

Oia só os meu lamento

Zefinha sufria dos purmão

E min dexô na solidão

Queu falei eu nun agüento.


Ficá de novo sozin

E cum doze fio pra criá?

Mais eis qui surge de finin

Na minha frente pra ajudá

A fia de dona Tertulina

De nome de Cartuprina

Qui foi na minha casa morá.


Cuma essa era boa paridêra

E só fio gemo era qui ela paria

Foi cinco ano quéça cumpanhêra

E nesse cinco ano dez cria

Quando os doze ia interá

A morte vêi li buscá

Levano todos no mermo dia.


Vinte dois fio, qui maravia!

Nun percisava coisa mió

Vinte e duas borça famia

Pra inxê o bogrodó

Mais pur cauza desse diêro

Eu vi o panavuêro

Nun agüentava mais ficá só.


Os cauzo vô incurtá

Viéro mais outras muié

Min cazei cum Varmirá

Depois vêi a Izabé

Maria foi a anti penúrtima

E agora tô cum a úrtima

A Chiquinha de Catulé.


As quatro úrtima citada

Oito fio min prezentiô

Nun recramo de nada

São trinta fio meus amô

Mais a Chiquinha de Catulé

Diz pra min quinda qué

Pari mais quato dotô!


Eu nun sei se é açuca

Qui botáro pra tempêro

Só sei qui quando futuca

O trem sobe pur intêro

Eu nun quero nem sabê

Só sei qui antes deu morrê

Vô dá mais uns pulo premêro.


Num é o qui almejo

Morte niuma de ninguém

Eu aqui bem qui pelejo

Num vê perto de mim esse trem

E se a Chiquinha de Catulé

Cum a morte ajuntá os pé

Caso de novo ni Itanhém.


Fui home pra sete muié

Trinta fios elas min deu

Contei tudo no cordé

A históra qui cunticeu

Rosa Serena nun atiça

Conto o cauzo da linguiça

É só ocê isperá ieu.


(Airam Ribeiro)




Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 23/05/2011
Reeditado em 28/05/2011
Código do texto: T2988764
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