A festa
A FESTA
João Batista era um sapo artista
Pulava e dançava em festas
Tocava viola e cantava
Para os bichos da floresta.
Seu amigo de baladas
Era a cigarra Guilhermino
Que, como a uma serenata
Tocava o seu violino.
Nas festas da floresta
Nunca podia faltar
João Batista & Guilhermino
Uma dupla popular.
As borboletas azuis
Rodopiavam no ar
Numa dança graciosa
Até a música acabar.
Se a festa fosse de dia
Todo mundo enchia a pança
Porque vinha a Dona Anta
Para fazer a comilança.
Se a festa fosse de noite
O vagalume trazia a filharada
Para sentar numa jibóia
Que ficava pendurada
E iluminar a festa
De maneira arrojada.
A festa estava bombástica
Na casa da Dona Cotia
Porque bem naquele dia
Fazia frio e chovia.
Juca Urubu foi barrado na porta
E o lagarto Sebastião
Um dizia: - É preconceito!
O outro gritava: - É perseguição!
Mas a explicação foi dada
E os pássaros em revoada
Davam queixa ao macaco capitão:
- Vão comer os nossos filhotes!
O urubu ultrajado
Sentindo-se injustiçado
Tratou logo de falar:
- Fiquem vocês sabendo
Que eu só como bicho morto
Bicho vivo não me interessa
Não me aguça o paladar
Por isso, abram a porta
Que eu quero festejar.
Sertanejo, pagode, jazz
Cantava-se de tudo
Pois na festa da floresta
Ninguém ficava mudo.
Quando amanheceu
A bicharada adormeceu
Pois estava bem cansada
De toda aquela noitada.
O sapo amontoou-se num canto
Nem quis saber de pular
Tinha festado tanto
Só queria descansar.
Porém, bem naquele dia
Quando a floresta dormia
Levaram o João Batista
Da casa da Dona Cotia.
Foi um choque na floresta
Todo mundo revoltado:
- Cadê o João para a festa?
- Cadê o João para o rebolado?
Um curumim Bororo
Amigo da bicharada
Seguiu os passos dos homens
E chegou a uma pousada.
Olhou pela janela
E ficou admirado
Era uma gaiolinha
Onde o João estava trancado.
- O João corre perigo
É melhor não fazer nada
Vou sair daqui correndo
E avisar a bicharada.
Os bichos da floresta
Num ato de instinto e esforço
Organizaram uma fuga
Em meio a um alvoroço.
A onça enfurecida
Demonstrou o seu protesto
Invadiu aquela casa
Imaginem só o resto.
Os macacos entraram pelo telhado
Foi uma briga daquelas
Os tatus por um buraco
Os quatis pela janela.
Até o bicho-preguiça
Ficou esperto naquela hora
Pegou o sapo depressinha
De dentro da gaiolinha.
Uma nuvem de pernilongos
Foi fazendo o seu trabalho
Tratou de mostrar aos homens
Onde ficava um atalho.
E para comemorar a façanha
Dos bichos dando um olé
Ali mesmo na pousada
Começou um arrasta-pé.
Ironi Lírio