O MATUTO INVOCADO

O matuto tem um jeito

que lhe é peculiar.

Seja como ele se veste

seja no modo de andar.

Anda balançando os braços

num gingado diferente,

parece feito de molas

e anda pendido pra frente.

Quando para num lugar,

numa perna ele se escora,

bota uma mão na cintura

e a barriga de fora.

Se tá perto d’uma parede

bota uma perna pra trás,

fica encostado nela

e o resto tanto faz.

Não se importa se falarem,

é sempre muito pacato,

fala alto, mas tranqüilo,

responde a tudo no ato.

Quem pensa que o matuto

é tolo desinformado,

que é fácil “passar-lhe a perna”,

está muito enganado.

Pois certa vez um matuto

lá em São Paulo chegou,

desceu na rodoviária,

logo um táxi encostou.

O motorista esperto,

foi logo lhe perguntando:

Diga lá oh! meu patrão,

o que é que está mandando?

O matuto desconfiado

lhe perguntou quanto era

uma corrida de táxi

dali até Itaquera.

O taxista lhe disse:

Não é menos nem mais.

Daqui até Itaquera,

eu vou por trezentos reais

E as malas, seu Doutor...

Por quanto o senhor carrega?

Perguntou assim o matuto,

e o motorista se entrega:

Levo as malas de graça,

não se preocupe com isso.

Vamos entrando no carro

e acabar o rebuliço.

O matuto disse: Doutor!

Já que não vai cobrar nada,

leve as malas no carro

que eu vou pela calçada.

Eu já fui em Itaquera,

sei direito onde é que é!

Leve as malas nesse preço,

que eu vou andando a pé.

Damísio Mangueira
Enviado por Damísio Mangueira em 22/06/2011
Reeditado em 23/06/2011
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