Exagerando e mentindo * Parte II* Autor: Damião Metamorfose.

*

Eu já recitei Cordel

Em braile, pra cego e surdo.

E um mudo falou pra mim

Que o poeta do absurdo.

Era o Orlando Tejo

Fazendo versinho burdo!

*

Certa vez fiz um balurdo,

Sem prensa e sem instrutor.

Para atender ao pedido

De um ilustre senhor.

Dizendo: que era pro eixo

Da linha do Equador!

*

Do Freud eu fui professor

Ele e a sua senhora.

Bill Gates é meu aluno,

Eu ensino, Ele decora.

Não sei por que Ele é rico

E eu só vivo na penhora.

*

Curupira e caipora,

Foi tudo eu que inventei.

De um eu cortei a perna,

Do outro, os pés eu virei.

E a mula sem cabeça

Também fui eu que cortei!

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Ouvi dizer que um rei,

Filho de Zé e Maria.

Ia nascer num estábulo

Por falta de hospedaria.

Fui lá e Fiz minha parte,

Essa qualquer um faria!

*

Peguei a estrela guia

Sua rota eu desviei.

E quando Jesus nasceu,

Os três reis magos guiei.

No caminho pra Belém,

Ao Herodes enganei.

*

Uma guerra eu acabei

E pra não contar bravatas.

Além de acabar a guerra,

Exterminei as baratas...

Com uma bufa turbinada

De ovo repolho e batatas!

*

Acabei com as mamatas

Dos políticos da nação.

Os conchavos e as propinas,

Passaram a ser ficção.

Quer saber quanto eu ganhei?

Nada, fiz por diversão!

*

Alimentei o leão

Que ia comer Daniel.

E Ele ao me agradecer

Disse: bravo menestrel.

Conte ao mundo a minha História

Nos seus versos de Cordel...

*

Nunca gostei de bordel,

Mas com doze anos de idade.

Acho que foi a primeira

Vez, que eu fui à cidade.

Passei o dia na zona,

Voltei sem a virgindade!

*

Ensinei jogo e ruindade

Ao Donald Trump em Las Vegas.

Depois trouxe pro Nordeste

Para conhecer os bregas.

Se eu não tenho o que Ele tem,

Foi por que apostei as cegas!

*

Pra quem só quer ser as pregas,

Mas deve em tudo o que é praça.

Inventei calça sem bolso

E uma nuvem de fumaça.

Que é para o credor não ver

Quando o velhaco passa.

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Movido pela cachaça,

Até mosca eu adestrei.

Os cabelos de Sansão

Também fui eu que cortei.

Tudo que é imaginável

Na terra, eu já inventei!

*

O tal casamento gay,

Que hoje é tão comentado.

Cá em Rafael Fernandes,

Faz tempo que é liberado.

Mas não diga que fui eu

Pois posso ser processado!

*

Eu já voltei ao passado

Sem sair do meu presente.

Já dei asas para cobras

E pernas para a serpente.

Mas depois que fui mordido

Me arrependi totalmente.

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Já fiz seca com enchente

E um inverno no verão.

Fui terror dos cangaceiros

E ao brigar com Lampião.

Botei-o para correr

Com seu bando do Sertão!

*

Já fiz padre e sacristão

Correr de batina erguida.

Dormi em casa sem teto,

Pra não ficar sem guarida

Fiz o que você não faz,

Nem nessa nem noutra vida!

*

Eu inventei a bebida,

Que mata e não mata a sede.

Só não fabriquei o vento

Que vem quando estou na rede.

Mas aumento e diminuo

Batendo o pé na parede!

*

Jesus disse: vinde e vede...

Digo: eu não sou só mais um.

Sou um cidadão pacato,

Com aparência comum.

Mas meu conteúdo é único

E o meu verso é incomum.

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Eu não inventei nenhum

Velhaco ou raça bandida...

Porque eu quero é distancia

Dessa raça corrompida.

Velhaco só atrapalha,

Na chegada e na saída.

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Fui eu que a descida

Pra poder eu descansar.

Depois de uma subida,

Descer sem me esforçar.

Nesse subindo e descendo,

Não seu mais como parar!

*

Eu montei e sei domar

um cavalo sem arreio.

Deixo manso pra corrida,

Exibição e passeio...

Sendo um cavalo de pau

Eu monto até em rodeio!

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Eu já entortei sem medo

O dedo de um valentão.

Só porque ele apontou

Ele em minha direção.

E acordei todo mijado

Deitado encima da mão!

*

Criei Dalila e Sansão,

A traição e o castigo.

Todos os sinais de alertas,

Avisei sobre o perigo.

Não ganhei nem um aperto

De mão ou abraço amigo!

*

Já assustei papa-figo

Que assustava moleque.

Hoje eu vivo me assustando

E assustaram até meu cheque.

Mamãe se assustou e disse:

Filho, não minta, não peque.

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Já tomei cana e pileque

Quente, pura ou com limão.

Que se fosse armazenada

De uma vez num caldeirão.

Dava pra encher açude

E enchente em ribeirão...

*

Eu sou filho do Sertão

me criei lá na caatinga.

Acho que fui batizado,

Com açúcar limão e pinga.

Por isso o meu pai dizia:

Esse se escapar, não vinga!

*

Sou azes e sou coringa

Tudo em um só baralho.

Sou mais raro e procurado

Do que cedro ou carvalho.

Mesmo quando eu não posso

Fazer, sou o quebra galho.

*

Não inventei o trabalho,

Mas aprendi descansar.

Se sei que o trabalho cansa

Pra evitar me cansar.

Eu passo o dia e a noite

Deitado e sem trabalhar!

*

Fiz um eixo pra girar

A terra em torno do sol.

Fiz as muralhas da China

Mais torta que um caracol.

E nem precisei sair

Debaixo do meu lençol!

*

Eu entortei o anzol,

Fiz a barbatana e a isca.

Inventei o vaga-lume

Em forma de pisca-pisca.

Transformei mulher direita,

Na chamada boa bisca.

*

D-eu fogo eu faço faísca,

A-ssovio e chupo cana.

M-isturo água com óleo,

I-mproviso uma cabana.

A-dultero até o vento,

O ano, o mês, a semana...

*

Fim.

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Material copiado na comunidade (Metamorfose Cordel & Poesia) e adaptado para Cordel.

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Se você desejar ser membro da comunidade... será uma honra, esse é o link

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http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=28562031

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Não somos os melhores, mas os nossos poetas são ótimos e únicos no que fazem.

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 27/06/2011
Reeditado em 27/06/2011
Código do texto: T3059864
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