SINA SERTANEJA...
As folhas caíndo
No meio da mata
Já seca a cascata
O verde partindo
Calor ressurgindo
Queimando o Sertão
Rachando o porão
O peixe já morre
Asa Branca corre
Desse sequidão
O vento soprando
No cume da serra
Levantando a terra
Poeira espalhando
O mundo rasgando
Força colossal
Esse vendaval
Que tudo devora
O povo estupora
De forma brutal
Água de cisterna
Caída da bica
Escassa já fica
Abaixo da perna
O calor inferna
Não há solução
Devendo o patrão
Vive em desespero
Nem mesmo o tempero
Botou no feijão
Vive de alugado
Da bolsa família
Se trabalha um dia
Fica três parado
No sertão lascado
Na mão de político
Um filho raquítico
Fácies de marasmo
Gritando de espasmo
Que estado crítico!
Panela vazia
Sem ter condimento
Grande isolamento
Só em Deus confia
Aquela família
É forte, não corre
A lágrima escorre
É triste seu pranto
Sertão é seu canto
Nasceu ali morre!
Monturo pelado
Vagueia o cachorro
Pedindo socorro
De fome coitado
Será devorado
Por essa estiagem
É essa a paisagem
De fome e de morte
Sem rumo e sem norte
Mas sobra coragem!