Amigo da Onça

Nasci no interior

Do estado de Goiás.

Depois fui trabalhar fora,

Alguns bens deixei pra trás.

Mas depois de uns dois anos,

À Goiás eu retornei

Pra rever minha família

E os amigos que deixei.

Lá eu tinha uma casinha,

E umas quatro vacas leiteira

A muié e a gurizada

E uma espingarda cartucheira.

No terreiro, umas galinhas,

E um pé de abacateiro

Quatro cabras e um bode

Quatro porcos no chiqueiro.

Um cachorro bom de caça,

Um fogão e umas panelas.

Meu cavalo era de raça,

Tinha arreio e sela.

Uma imagem de São Jorge

Na parede pendurada.

No paiol as ferramentas.

Duas foices e uma enxada.

Na rocinha que eu plantava,

Tinha arroz e mandioca.

Dava até feijão de corda,

Tinha milho de pipoca.

O trator e o arado

A um amigo emprestei

Pra num ficar enferrujado

Enquanto eu me ausentei.

Olha só como é a vida:

Enquanto os anos passavam

Os amigos que eu tinha

Em inimigos transformavam.

Veja o que aconteceu:

A muié que eu mais queria

E o melhor amigo meu

Na minha cama me traía.

Ao entrar pela porteira

De longe eu avistava,

Debaixo do abacateiro

Meu melhor amigo estava.

E com a minha cartucheira

Pro meu lado ele mirava.

Pior era o meu cachorro

Que de longe me acuava.

Nesse instante descobri

Que não tinha mais muié,

Nem rocinha pra plantar

Uns pezinhos de café.

Os cabritos e os leitõezinhos

Já num era posse minha.

O maldito do amigo

Roubou tudo que eu tinha.

Eu rezo à Deus nas alturas

Pro maldito se estrepar.

Mas aprendi a lição:

Nunca mais vou viajar.

A muié e os meus filhos

Eu também não vou deixar.

E em amigo da onça

Nunca mais vou confiar.

Edilson Biol
Enviado por Edilson Biol em 29/06/2011
Reeditado em 16/04/2012
Código do texto: T3064162
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