CORDEL DESENCANTADO
Nesse cordel não tem princesa
Nem príncipe e nem vossa alteza
Muito menos a beleza
Das minina do povoado
Não existe um delegado
Froxo que usa piruca
E não larga de bituca
No cordel desencantado.
Não existe um coronel
Desumano e cruel
Mais amargo do que fel
Que maltrata os empregado
Nem morto ressuscitado
Apaixonado por mocinha
Bonitona e riquinha
No cordel desencantado.
Prefeito não tem mulé
Que nem sabe fazê café
Nem mesmo um sarapaté
Rei num gama em criado
Sertanejo é respeitado
Por todos da vizinhança
Todo dia tem festança
No cordel desencantado.
Num gagueja o poeta
Não apanha o profeta
Os mocinhos se acerta
Pra viverem bem casado
Na casinha do povoado
Perto da Vila da Cruz
Sempre seguido da Luz
No cordel desencantado.
Não tem mãe de cangaceiro
Valente quenem bombeiro
Mordomo num é trambiqueiro
Muito menos pau mandado
Pela amante num é chifrado
Num se ajunta cum duquesa
Só pra fazê malvadeza
No cordel desencantado.
Sultão não casa cum três
É uma de cada vez
Sinão mofa no xadrez
Não vive disconfiado
Num anda todo apressado
Não iscuta historinha
De Bartira e Neusinha
Muito menos da Branquinha
No cordel desencantado.
Lá num tem nem um cinema
Todo cheio de probrema
Nem qui qui qui dôa nem que gema
Num abriga mascarado
Memo sendo do reinado
Num tem um padre porreta
Cum subrinho ispoleta
No cordel desencantado.
Soldado num é medroso
Os quitute são gostoso
Não tem nenhum mentiroso
Já cum um zóio furado
Que bandeia pr’outro lado
Só pra ganha da duquesa
Um título da nobreza
No cordel desencantado.
Num tem cocão sem chumaço
Num tem o rei do cangaço
Que diz tê peito de aço
E vive todo aperriado
Por não viver do seu lado
O filho do capitão
Que renega a profissão
No cordel desencantado.
Pra interá o quadrão
Vô fica di inrolação
E agradecê de coração
Espero que tenham gostado
E aqui deixo meu recado
A quem escreveu a novela
Que é mesmo muito bela
No cordel desencantado.
Inspirado na novela global Cordel Encantado de Duca Rachid e Thelma Guedes. À elas meus sinceros parabéns.