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A Maldição do Milho de Pipoca
Conto neste cordel esta história que aconteceu comigo em 1989

 
Meu senhor peço acredite
No que aqui vou lhe contar
Esta história é verdadeira
E nada eu vou inventar
E foi lá no Piauí
Bem depois de Tianguá

Médico recém-formado
Com a sogra fui morar
Dona Olga é gente fina
Nos recebeu no seu lar
E foi lá no seu quintal
O que aqui eu vou narrar

Estudava e trabalhava
Era a pós-graduação
O estudo muito intensivo
Ainda dava plantão
Resolvi pra relaxar
Fazer uma plantação

Uma pipoca quentinha
Sempre gostei de comer
Resolvi então plantar
Pra depois vir a colher
Era milho de pipoca
Um banquete ia fazer

Preparei então a terra
Com enxada, água e facão
Escolhi também o milho
E pensei na irrigação
Comecei no outro dia
Minha rica plantação

Quando eu estava a plantar
Tinha gente no portão
Levantei a minha vista
Com as mãos sujas de chão
Avistei Antônio Bel
Que me acenou com a mão

É um ser muito folclórico
Procura agir com razão
Ele tem sempre uma história
Para tudo uma versão
A verdade é sempre a dele
É dele sempre a razão

Como então ia dizendo
Ele acenou com a mão
Perguntou ô meu compadre
O que fazes neste chão
Respondi estou aqui
É fazendo plantação

O que plantas neste solo
O Bel queria saber
Planto milho de pipoca
Venha aqui se quiser ver
Pois tá perdendo o seu tempo
É o que vou lhe dizer

Este milho de pipoca
Vai muchar e vai morrer
Não adianta plantar
Pois nem sequer vai nascer
E aqui com meus botões
Pipoca não vai comer

Perguntei então pra ele
E porque não vai nascer
Ele disse este quintal
Tem luz forte e faz arder
E suas belas sementes
Vão todas sim é morrer

Não dei ouvidos pra ele
Terminei a plantação
Com a mangueira irrigava
Quando vinha do plantão
E o milho foi nascendo
Pra minha satisfação

Alguns dias se passaram
Quando olho pro portão
Adivinha quem eu vi
Acenando com a mão
Era o seu Antônio Bel
O que fazes meu irmão

Eu estou limpando o milho
Que viçoso sim nasceu
Desafiando o que disse
Ele brotou e cresceu
Veja como está bonito
O quintal já preencheu

Não adianta isso tudo
Pois seu tempo vai perder
Pode até já ter nascido
E chegou mesmo a crescer
Mas as bonecas de milho
Nunca vão aparecer

Eu pensei que cara chato
Vem aqui de azarão
Fica afirmando uma coisa
Com muita convicção
Se eu não fosse bem firme
Esquecia a plantação

E o milho foi crescendo
As bonecas a brotar
Cada pé, duas espigas
Todo dia eu ia olhar
E com grande alegria
Cada pé vinha irrigar

Então de novo surgiu
O nosso amigo azarão
O que fazes meu compadre
Embaixo deste clarão
Eu falei veja as bonecas
Muito milho elas darão

Compadre eu já lhe disse
Está perdendo seu tempo
Bonecas até surgiram
Mas milho eu te sustento
Nunca ele vai surgir
Espigas sem brotamento

Fiquei ali meditando
Mas que cara avarento
Não dei ouvidos pra ele
Continuei meu intento
E cuidei do meu roçado
Era meu divertimento

E cem dias se passaram
O quintal amarelou
O milho estava maduro
E meu orgulho aumentou
Fui colher então o milho
Como ouro até brilhou

Estava eu muito feliz
E colhendo a plantação
Nem acreditei quem vi
Acenando do portão
Pois não era ele de novo
Acenando com a mão

Meu compadre o que fazes
Dentro desta insolação
Eu falei estou colhendo
O fruto da plantação
O milho que tu disseste
Nem brotaria do chão

Seu Bel mirou para cima
Pensando por um tempão
Depois virou para mim
E fez sua previsão
E disse naquela hora
Tudo isso foi em vão

O seu milho germinou
Não posso aqui duvidar
Até cresceu e vingou
Mas uma pena me dar
O seu milho de pipoca
Jamais irá pipocar

Eu falei Antônio Bel
Querendo você ou não
Meu milho vai pipocar
Vai servir de refeição
Se quiser eu te convido
Não valeu a maldição

Havia lá no quintal
Uma área cimentada
Espalhei o milho ali
Lá no centro da calçada
Como o sol estava forte
Vai secar duma tacada

E fui cochilar um pouco
Enquanto o milho secava
O céu foi escurecendo
Uma chuva despencava
Carregou todo meu milho
Enquanto eu cochilava

Ouvindo chuva e trovão
Atordoado acordei
Corri ligeiro ao quintal
Imagine o que passei
A chuva levou o milho
Nem um caroço avistei

Logo pensei no seu Bel
Que tamanha maldição
Tanto agouro ele botou
Minha rica plantação
Pois pipoca eu não comi
Que maldita previsão

E assim termina aqui
Esta minha narração
O milho ficou bem triste
Com a sua maldição
Não chegou a pipocar
Sumindo na inundação

Se algum dia ainda for
Fazer uma plantação
Eu irei pra muito longe
Do cara da maldição
Já estou até pensando
Nos confins do Maranhão


 
OBRA METRIFICADA EM 07/09/2014
 
VOCÊ NEM VAI ACREDITAR!! POIS NÃO É QUE 23 ANOS DEPOIS, EM 2013, FUI A TERESINA E REENCONTREI O ANTÔNIO BEL QUE FICOU MUITO FELIZ QUANDO LHE PRESENTEEI COM UMA EDIÇÃO DESTE CORDEL. E LOGICAMENTE TIRAMOS ALGUMAS FOTOS PARA QUE MEUS LEITORES CONHEÇAM NOSSO AMIGO AZARÃO! Risos
 

Refazendo a cena, Antônio Bel chega na mesma casa, mesmo portão e acena para Levi Madeira

Antônio Bel continua o mesmo, espontâneo, dono da razão e contador de "causos". Aqui no mesmo quintal aonde fiz a minha plantação de milho de pipoca só que agora está todo no piso.




Antônio Bel e Levi Madeira se reencontram 23 anos depois e relembram a história da Maldição do Milho de Pipoca. Ele ficou superfeliz quando recebeu um exemplar deste cordel e disse que iria ler pra todo mundo que encontrasse...Vários leitores me perguntavam se Antônio Bel realmente existia ou se foi invenção minha, minha leitora de carteirinha LÊDA TARGINO, foi uma dessas leitoras e aqui apresento o homem! risos

 
AUTOR DESTE CORDEL

Levi Torres Madeira
Médico Oftalmologista – CREMEC: 4834 – RQE: 2865
Especialista em Cirurgia Plástica Ocular com Excelência em Blefaroplastia
 
CONTATOS:

Site da Clinica Levi Madeira: www.levimadeira.com.br

E-mail: levi.torres.madeira@gmail.com
Fones: (85) 3486-6363 e 3486-6461
Av. Dom Luis, 1233 – Sala 401
Fortaleza – Ceará – Brasil
 
Escritor de Literatura em Cordel
 
SITE DO ESCRITOR:
www.levimadeira.recantodasletras.com.br 
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