Retratos do Meu Sertão

Sou sertanejo e levo vida

Neste mundo atribulado

No muito que tenho andado

De tudo eu tenho visto.

Crença e descrença em Cristo

Sofrimento, desilusão

Artimanhas de patrão

Chuva, seca, enxurrada

Grito, choro, risada

De Tudo vi no Sertão

Alegria, sofrimento

De tudo presenciei

Guardo as coisas que amei

E vi com os olhos da alma.

O silencio da noite me acalma

Me abranda o coração

Me cobre de emoção

Pois vem na minha memória

Pedaços da minha história

Do que vivi no Sertão

Já acordei com o barulho

Do roncar da minha pança

Como é duro ser criança

No meu sertão nordestino.

Sem inverno, o sol a pino

Sem água pra criação

Sem mistura pro feijão

Vejo meu pai buscar melhora

Minha mãe escondida chora

Como é mal este Sertão.

Quando chovia era maravilha

Meu pai voltava e a alegria

reinava no dia a dia

Se vivia com fartura.

Carne, queijo, rapadura

Tinha de tudo e de montão

Engordava a criação

Ganhava cor a açucena

Aí sim, valia a pena

Ser criança no Sertão.

Ao meu Deus eu agradeço

Ele atendeu a minha prece

O sertanejo agradece

E sempre paga a promessa.

Nosso povo a fé expressa

Com um terço em procissão

Também agradeço em oração

Ao senhor, meu São José

Por eu ser forte e ter fé

E ver chover no Sertão.

Carregamos dentro do peito

Orgulho do berço materno

Vivemos de seca a inverno

Construindo nossa história

Cada dia uma vitória

Cada noite uma oração

De terço e vela na mão

Agradeço ao divino

Pedindo ao Deus menino

Pra mandar chuva pro Sertão!

No meu baú de memórias

Revejo o meu passado

Astúcia de namorado

Agarradinho no escuro

Namoro de pé de muro

O fungar de um donzela

O alumiar de uma vela

Uma moleca enxerida

Uma barriga crescida

Um altar e uma capela.

Família constituída

No fim do ano um bruguelo

Hoje crescido, magrelo

De dividir comida pouca

A mãe já com a voz rouca

De gritar vem cá menino!

O outro quis o destino

Abreviar seu sofrer

Inda chego a me abater

Se ouço o tocar de um sino.

Inverno, açude, barragem

Se traduziu em melhora

Ninguém sai mais pro mundo afora

A fartura mora ao lado

Cada um tem seu roçado

E cuida da plantação

E a tal da emigração

Quase mais nunca acontece

Aqui ninguém mais padece

É milagroso o Sertão.

Irmão ajudando irmão

O gado solto no pasto

O conhecimento é vasto

Tem escola lá na vila

A noite nós desopila

A família se mistura

E comemora a fartura

É certo como uma lei

Nós dançar o Boi de Rei

Pra manter nossa cultura.

Tem queijo raspa de tacho

O cantar do curió

O meu avô, minha avó

Cantam uma velha cantiga

O milho enche a espiga

Tá garantido o pão

Vai ser farto o meu São João

Vai ter forró, vai ter quadrilha

Joãozinho já lê a cartilha

Tudo Mudou no Sertão...

Ainda tem umas comadres

Que teimam em ser fofoqueira

Ficam falando asneira

Em todo lugar é assim

Tem gente boa e gente ruim

Outros num tem humildade

Mas quer saber a verdade?

Eu acho uma babaquice

Elas só falam tolice

No fundo nem tem maldade.

É hoje que a vaca tosse!

Dizem pela uma boca só

Hoje a noite tem forró

No armazém de Zé Vieira

E o Deixe de Brincadeira

Vai tocar, forró, baião

Todo tipo de canção

Com fartura e alegria

É assim o dia a dia

Quando chove no Sertão.

Celso Cruz (Brocoió)
Enviado por Celso Cruz (Brocoió) em 06/08/2011
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