O valor do dinheiro

As aves mais conhecidas

Que circulam no país

São as garças e araras

E também os colibris

Mas só no final do mês

É o que o povo diz

Alguém andando na rua

Acha uma onça-pintada

Recolhe ela do chão

Deixa no bolso guardada

Depois por cinco araras

Ela pode ser trocada

O mico-leão-dourado

Vale só duas araras

Se voltar a inflação

Com mercadorias caras

Levar os bichos ao banco

Será uma coisa rara

Dessa fauna diferente

A tartaruga marinha

Desaparece depressa

Sempre que está sozinha

No mercado é trocada

Por um saco de farinha

Desses animais do mar

O mais raro é a garoupa

Esse peixe o cidadão

Ou leva ao banco e poupa

Ou esbanja o que tem

Em uma peça de roupa

Quase todos povos tem

Um sistema financeiro

E vou escrever agora

No estilo costumeiro

Uns versos para falar

Sobre o valor do dinheiro

Roubar é o ato perfeito

Pra prejudicar alguém

Ser amigo do alheio

Não compensa a ninguém

O mandamento reprova

E a consciência também

Com bancos e joalherias

Na mira do assaltante

Anéis de ouro, dinheiro

E colares de brilhante

Vão parar em sua mão

Se não houver o flagrante

Para prender o ladrão

Confiamos na milícia

Da força policial

Mas surgiu uma notícia

De uma soma roubada

E pela própria polícia

Quando uma autoridade

Tem lucro por intenção

Abusa dos seus poderes

Praticando a extorsão

Desonrando o seu nome

Se equipara ao ladrão

Tem o estelionatário

Que engana qualquer um

Oferece sociedade

Sem prejuízo nenhum

Enganar o ganancioso

É o seu golpe comum

No processo eleitoral

Sempre tem ladrão no meio

Há quem só se candidata

Pra ser amigo do alheio

Entra na corrupção

Pra sair de bolso cheio

Roubar é uma torpeza

Não exclusiva do pobre

Ao rico ganancioso

Mesmo que o dinheiro sobre

Ele faz a falcatrua

Que um dia se descobre

Riqueza não é o mal

Nisso não há discordância

O problema é quando faz

Aparecer a ganância

Naquele que dá pra ela

A mais alta importância

Pobreza não é desonra

Pior é ser avarento

Quem trabalha honestamente

Pra garantir o sustento

Diz a Palavra Sagrada

É rico em contentamento

Das faltas de quem é pobre

Tem uma que é estranha

É quando pensa ser rico

Gastando mais do que ganha

E uma vez endividado

Sua penúria é tamanha

Se o comércio oferece

Crediário aos fregueses

O pobre fica pensando

Que no decorrer dos meses

Vai poder comprar o mundo

Se pagar em doze vezes

E quando algum sujeito

Esmola por precisão

Mantém a dignidade

Recusando ser ladrão

É alvo da caridade

Daquele que estende a mão

Exemplo de compaixão

Foi um certo Nicolau

E dizem que ela está

Na origem do Natal

Só que existe um erro

Na tradição atual

Nicolau dava esmola

Pra quem era mais carente

Sempre no anonimato

Distribuía o presente

Era um homem exato

E seu ato coerente

O Papai Noel de agora

É piedoso por contrato

Incentiva o consumismo

Gostando do estrelato

A criança milionária

É seu freguês imediato

O filho do mais carente

Na data nem é lembrado

No festejo natalino

O presente é trocado

O pobre não participa

Se sentindo desprezado

A pobreza é conseqüência

Da má distribuição

Se a honradez vencesse

A ganância do barão

Em qualquer lugar do mundo

Ninguém ficava sem pão

O turismo espacial

É a grande novidade

Os ricos pagam fortunas

Por sua excentricidade

Enquanto muitos na terra

Passam por necessidade

Quem da sua opulência

For useiro e vezeiro

Vai ser o dono do mundo

Pela força do dinheiro

Sem dar fé que é escravo

Do sistema financeiro

Se alguns tem a fartura

Pra muitos falta na mesa

E essa defasagem mostra

Que o tropeço da riqueza

Pra quem busca é a cobiça

Pra quem sobra é avareza

Das maneiras que existem

De alguém ganhar dinheiro

O jogo é o preferido

Para dar lucro ligeiro

E em vez da sorte grande

O vício chega primeiro

Na Loto é permitido

Fazer aquela fezinha

Querendo mais emoção

O sujeito perde a linha

E aposta todo salário

Em uma briga de rinha

Fulano joga no bingo

Sicrano na loteria

Beltrano joga no bicho

Dizendo: - Hoje é meu dia!

E vão se endividando

Porque o jogo vicia

Onde grassa o dinheiro

O erro tem amplitude

Deixando imoralidade

Transformada em virtude

Culpado fica inocente

Sem mudar de atitude

A melhor reflexão

Com sentido mais profundo

Descobri nesse ditado

Que do povo é oriundo:

Quem só dinheiro possui

É o mais pobre do mundo

Quem faz o país crescer

Digo e não peço segredo

É o braço e o suor

Daquele que acorda cedo

Pra garantir o seu pão

Ele trabalha sem medo

E de todo esse assunto

Que aqui fiz um estudo

Faço agora a conclusão

Com rigor e conteúdo:

O muito sem Deus é nada

e o pouco com Deus é tudo!

Carlos Alê
Enviado por Carlos Alê em 10/08/2011
Reeditado em 03/05/2019
Código do texto: T3151168
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