ENTERRO DO QUERENCIO (quase cordel)

Vilarejo em silêncio

Quando a noticia correu

Morreu o seu Querêncio

Antes ele do que eu

Raquel caiu em pranto

Desses de desesperar

Tido quase como santo

Pelo povo do lugar

O padre se lamentou

A perda do sacristão

Porque não me esperou?

Queria dar extrema unção

Na hora do velório

Todo mundo apareceu

Que nem festa de casório

Quem não foi, diz que perdeu

As beatas a rezar

Carpideira enciumou

Nem é bom lembrar

Confusão já começou

Aproximou-se da Raquel

Cumpadre Aparecido

Foi mostrando um papel

Dívida do falecido

Zé do Empório escutou

Se for pra ser assim

Rapidinho avisou

Também devia para mim

O Mané da Padaria

Foi ao padre e cochichou:

Tem vinho da sacristia

Que ele levou e não pagou

O Toninho lá do bar

Tomou coragem e reclamou

Minha mesa de bilhar

Com o taco ele rasgou

Murmurou uma mocinha

Da casa do pecado

Teve uma vezinha

Que eu lhe fiz fiado

O que é ruim também piora

Surgiu dona Esperança

Veio na última hora

Mostrar o pai para a criança

Querêncio deitadinho

Não podia reagir

Com cara de santinho

Parecia até sorrir

Raquel quase desmaiou

Só pode ser maldade

O cunhado confirmou

Tudo mesmo era verdade

Gritou enraivecida

Que vá logo para o inferno

Pra chegar bem na outra vida

Ainda lhe comprei um terno

Já vai tarde seu safado

Nem olhou para o caixão

E saiu de braço dado

Com um tal de Ricardão

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 15/11/2011
Reeditado em 15/11/2011
Código do texto: T3336871
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