ENTERRO DO QUERENCIO (quase cordel)
Vilarejo em silêncio
Quando a noticia correu
Morreu o seu Querêncio
Antes ele do que eu
Raquel caiu em pranto
Desses de desesperar
Tido quase como santo
Pelo povo do lugar
O padre se lamentou
A perda do sacristão
Porque não me esperou?
Queria dar extrema unção
Na hora do velório
Todo mundo apareceu
Que nem festa de casório
Quem não foi, diz que perdeu
As beatas a rezar
Carpideira enciumou
Nem é bom lembrar
Confusão já começou
Aproximou-se da Raquel
Cumpadre Aparecido
Foi mostrando um papel
Dívida do falecido
Zé do Empório escutou
Se for pra ser assim
Rapidinho avisou
Também devia para mim
O Mané da Padaria
Foi ao padre e cochichou:
Tem vinho da sacristia
Que ele levou e não pagou
O Toninho lá do bar
Tomou coragem e reclamou
Minha mesa de bilhar
Com o taco ele rasgou
Murmurou uma mocinha
Da casa do pecado
Teve uma vezinha
Que eu lhe fiz fiado
O que é ruim também piora
Surgiu dona Esperança
Veio na última hora
Mostrar o pai para a criança
Querêncio deitadinho
Não podia reagir
Com cara de santinho
Parecia até sorrir
Raquel quase desmaiou
Só pode ser maldade
O cunhado confirmou
Tudo mesmo era verdade
Gritou enraivecida
Que vá logo para o inferno
Pra chegar bem na outra vida
Ainda lhe comprei um terno
Já vai tarde seu safado
Nem olhou para o caixão
E saiu de braço dado
Com um tal de Ricardão