Cordel do Reveillon 2006
Tere Penhabe

Esperei bem ansiosa
o dia dessa passagem
foi um ano primoroso
guardei sonhos na bagagem
cheio de amigos e amores
merecia meus louvores
até uma nova roupagem.

Pra festejar o reveillon
caprichei a indumentária
Sapeka fez os contatos
também foi depositária
pra barraca tão sonhada
lá se foi a meninada
na alegria perdulária.

Ciducha de teletubi
esperança ali sobrou
cinturão de muito ouro
a outra lá envergou
de bermuda amarela
terê suplicou pra ela
o dindin que inda sobrou.

Guida e Juan nem ligaram
dinheiro pra que dinheiro
os olhinhos só viravam
foi amor a noite inteira
"êta paxão disgraçada"
que deixou a mulherada
com inveja do entrevero.

Jupira amargou o chão
que foi preciso encarar
pois na imediação da festa
não conseguiu estacionar
lá foi ela guardar o carro
muito brava pelo fato
da gente não acompanhar.

A menina tem que ver
que tamu tudo lascada
se tiver que andar a pé
pra festa não sobra nada
porque a bem da verdade
se somar a nossa idade
quinhentos dá pra largada.

No fim deu tudo certo
todo mundo reunido
entramos na tal barraca
todas contentes da vida
alegria durou pouco
que isso é coisa de louco
cerveja não ter saída.

Procurei o toalete
pra não dizer mijador
disgramado não existia
ai meu Deus nosso Senhor
Ciducha perdeu o siso
sua carinha era de riso
mas mostrava a sua dor.

Já passei à companheira
o meu vale da cerveja
pois mais que uma de fato
a bexiga não aguenta
mas ali do nosso lado
casalzinho apaixonado
não deu bola pr'esse evento.

Fiquei tão mau humorada
que precisei dar um jeito
pra sanar essa enrascada
executei meu defeito
comi feito os eleitores
do nosso circo de horrores
o Brasil do Lula eleito.

Mas até acabar a fila
o negócio tava bravo
panela toda raspada
precisou nervos de aço
Guida me cedeu o caroço
da manga que deu pro moço
mas o pernil era macho.

Pois na ceia que eu deixei
pronta na minha cozinha
a filhota reclamou
do pernil cor-de-rosinha
que culpa lá tenho eu
se o pernil se perverteu
e virou um mariquinha?

Mas voltando à vaca-fria
nessa altura da noitada
eu não sabia se ria
ou se gritado eu chorava
lembrei de um precedente
que nem sempre tem pão quente
é o que mainha falava.

Mas as minhas sete ondas
que jurei que ia pular
ficou mesmo para o ano
não deu pra sair de lá
Ciducha ameaçava
que na cerca ela trepava
foi preciso segurar.

Inda não falei da prece
que pro céu eu enviava
segura a onda meu santo
que a chuva tripudiava
se me cai esse dilúvio
pra onde vão as viúvas
pois a barraca não dava.

Mal acabou o foguetório
o remédio foi zarpar
mas só as três cajazeiras
os outros ficaram lá
quem ama não faz xixi
nem na espanha nem aqui
foi o que eu pude notar.

E lá fomos nós pra casa
Ciducha pro Jaburu
e tentou negociata
mesmo em tanto sururu
Sapeka, a nossa colega
querendo entrar de penetra
no banheiro dos raçudos.

Esse mico eu não paguei
mas a fila do feminino
ia até o mar e voltava
céus, eu nunca vi aquilo!
Fiz uma contra-proposta
ela engoliu minha prosa
e fomos pra outro mico.

Inda não perdi o juízo
por isso não vou contar
que eu acabo na senzala
se essa história eu relatar
entre mortos e feridos
só a bexiga dolorida
se salvou desse lugar.

Mas a gente não desiste
assim tão fácil na vida
é fato que o reveillon
já era caso perdido
mas no primeiro do ano
fomos nós pra outros planos
com banheiro bem à vista.

Zé Luiz mais a Eliana
o encantador Guerino
Marcial que estava só
sem a querida Neidinha
vieram molhar a goela
em frente à minha janela
não sei se é sorte ou castigo.

Melhor seria uma igreja
ser aberta no lugar
mas se nada é por acaso
não podemos renegar
encontro predestinado
Guerino apaixonado
que Ciducha é de amargar.

E lá pelo fim da noite
não acreditei no que ouvia
nossa amiga querida
virou só a "Quiduchinha"
mais um que caiu na rede
matando sua antiga sede
nos trejeitos da amiguinha.

E o Aprendiz de Poeta
pagou seu mico também
que raspadas as travessas
o marmitex lhe vem
ele refuga assombrado
o que vou levar pra casa
não sobrou aqui vintém.

Assim juntamos os cacos
do ano novo combalido
com muito amor e alegria
que pra vida dá sentido
e esse reveillon da gota
chiquetoso ou marmota
nunca será esquecido.

Santos, 01.01.2007
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