Euclides da Cunha

Morreu de morte matada

A 15 de agosto de 1909

Um século de sua ida

Pra cidade de pés juntos

Como, então, pode tal fato

Passar em brancas nuvens?

Homem das letras

Da prosa e da poesia

Será pra sempre lembrado

Em nosso coração palpita

Uma de sua mais linda epopeia

‘Os Sertões’, uma obra completa.

Descrição fiel do sertanejo

A Terra, O Homem

Além disso, A Luta

Como não valorizar alguém dessa monta?

Nossa literatura é o que é

Porque nosso escritor é dessa conta.

Euclides da Cunha

Homem sensível e de caráter

Revelou nossa terra como nenhum outro

Em Canudos, o beato Antônio Conselheiro

Fez miséria lá pra o lado da Bahia

Foi um cão chupando manga.

“Em 1897 – a Guerra de Canudos

precisa ser lembrada”, disse

Maria de Belém (mestra)

Historiadora

Conhecedora dos fatos

Que só se contam na escola.

Muita gente se lembra

Do beato Conselheiro

Homem de sangue nas ventas

Arregimentou o sertão

Pra uma briga de facão

Contra os coronéis latifundiários.

Lá no sertão, um sofrimento só

No Arraial de Canudos

Notícia pra o Brasil inteiro

A polícia aos pulos

Diante da saga daqueles guerreiros.

Muita matança...

Que raça de covardes!

Toda aquela gente dizimada

Não contaram conversa

Transformaram o povoado em lenda

E o lugar virou cinzas.

Virgem Santíssima, mãe de Jesus Cristo!

Uns milicos demoníacos!

O sangueiro escorrera nos lajedos

As mocinhas se escondiam

Era demasiada a extravagância

Grande coisa aqueles anticristos!

Quando me contaram o ocorrido

Fiquei zonzo só de imaginar

Tremi nas bases

Senti um medo da bexiga taboca

Borrei nas calças

Resolvi botar a boca no trombone.

O inferno está cheio daqueles incréus

O fogo queimando os seus traseiros

Que nem Zebedeu

Pois a justiça dos céus

Tarda, mas não falha

Bota pra arder os ateus.

Eu não sinto um pingo de pena

Posso mesmo é comemorar

Já que quem faz aqui na terra

Tem mais que pagar

Se eles entraram na chuva

Tinham que se molhar.

Ó, Euclides!

Cumpriste a tua missão

Relatando as atrocidades

E opressão

Contra aquela gente humilde

Que não arregou nenhum tiquinho.

Lá pra banda do Amazonas

Euclides resolveu se enfiar

Riquezas pra todo lado

E piratas a se refestelar

O escritor queria tudo anotar

A beleza da natureza fizera o homem delirar.

O látex estava na vez da bola

Os seringais fascinaram os barões

Eram um chama pros gringos

Inglês, americano, e japonês

Os nordestinos faziam a borracha

E as prostitutas francesas, a cama dos patrões.

Aquilo não passara de sonho

Para os senhores feudais brasileiros

Não levou muito tempo

A derrocada da opulência

Tudo fora roubado

E levado para as terras europeias.

A Floresta Amazônica está na mira agora

Quem tiver ouvido, ouça

A Amazônia é nossa!

Ninguém tasca aquele presente de Deus

Mas, pra isso

Precisamos nos obstinar, ora!

Com o escritor Euclides

Quero me congratular

Refletir a nossa realidade

Convocar o meu país

A ficar de olhos bem abertos

E cuidar do nosso ‘Eldorado’.

Sejamos destemidos

Encaremos nossa batalha de frente

Bater pino nessa hora

É pura ‘lezeira-baré’

O caldeirão tá fervendo

Encaremos a crise, pois não somos dementes.

A luta é de foice

Será que estamos preparados?

Não podemos titubear

Nesse impasse global

O dia D tá chegando

Não pensem que é só carnaval.

Euclides, ó Euclides!

Onde estás que não respondes?

Esses cem anos se comemora tua partida

Os nossos correligionários precisam mais

Abrir os olhos

Se tocarem com os desmandos.

Os paraibanos tem uma missão

Darem a sua contribuição

A flecha foi lançada

Aquinhoemos nossas obrigações

Façamos nossa parte

Pois seremos por todos ovacionados.

Armemo-nos até os dentes

A peleja vai ser de amargar

O bicho vai pegar

Ao Chaves, temos que nos atrelar

Somente ele pra nos ajudar

Ele tem cacife e é nisso paxá.

Conterrâneos, não neguemos fogo!

Não batam pino

Fiquemos atentos

Peguemos as metralhadoras

Enquanto o caldeirão esquenta

A batata logo está ao dente.

É matar ou matar

Se você está com medo

Não precisa me seguir

Chupe gelo

Esconda-se

Deixe tudo comigo.

Homem não chora

Quem já viu homem chorar?

Mulher também não

E eu vou provar

Tá aqui minha peixeira

Digo-te com firmeza: vamos precisar

O negócio vai arrochar.

Olha aí o meu recado

Que ele sirva de aviso

Que meu discurso repercuta

Seja o alerta que todos precisam

Os brasileiros que se conscientizem

Pois o problema é de morte.

Aquele que sobreviver

Será, enfim, jubilado

Viverá feliz e na paz

E o país agraciado

Livre dos espertalhões

‘Donos do mundo’.