O HOMEM DOS PÉS DE BARRO
No bairro do chuvisca sapo
Morava Joaquim pés de barro
Ele vivia sozinho, parecia feliz
Sempre tinha um canto bizarro
Seus pés amputados, ainda jovem
Quando foi atropelado por um carro
Porém ele jamais se entristeceu
Fez para si, duas botinas de barro
Sentado numa cadeira de rodas, sorria
Todo tempo, era doce, fazia mesuras
Era vidente, aprendeu a ler as mãos
Ficou famoso ao fazer muitas curas
Desfazia mal olhados, quebrava encantos
Lia o futuro, desfazia o mal, fazia predições
Ensinava as moças a acharem o amor
Conhecia os atalhos da alma e dos corações
No bairro do chuvisca sapo, onde morava
Era muito popular, a todos conhecia
Fazia milagres, juravam, dizia sempre:
O corpo é bom, a cabeça é que é doentia
O velho senhor dos dos pés de barro
Era sábio, ministrava muitos ensinamentos
Dizia que a vida era um parque de diversão
Brincava quem eliminasse os pensamentos
O homem pobre dos pés de barro
Não podia pelo mundo caminhar
Porém não sentia falta, andam por mim,
Dizia, que estava sempre em todo lugar
O homem das botas de barro trincadas
Falou que nunca soube o que era sofrer
Que seu mal era sentir pena dos que iam
Sem que tivessem conseguido viver!
Pedia que não olvidassem seu último pedido
Ir no caixão, com as mãos para fora, já frias
Para mostrar que nada trouxera ao mundo
Que assim voltaria, com as mesmas vazias!