HOMENAGEM AOS VAQUEIROS!!!

HOMENAGEM AOS VAQUEIROS!!!

Dotô eu fui um vaqueiro

Afamado no sertão

Nunca vi boi mandingueiro

Pra eu num botar no moirão

Eu fazia por capricho

Por grande que fosse o bicho

Podia ser vaca ou touro

Eu dominava o incréu

Honrando assim meu chapéu

E o meu gibão de couro

Na caatinga ou no cerrado

Mato grosso ou capoeira

No meu alazão montado

Quebrava rama e madeira

Passava de qualquer jeito

Levando tudo no peito

Que tivesse no caminho

E assim sem temer nada

Juntava toda boiada

Sem companhia, sozinho

Sem temer qualquer perigo

Eu me embrenhava no mato

Sem ter moleza comigo

Pegava a vaca ou um boiato

Por mais que fosse valente

Nunca vi onça ou serpente

Que me fizesse sobrosso

Vencido pela idade

Hoje ainda sinto saudade

Do tempo que eu era moço

Jurema unha-de-gato

Cipó-de-boi macambira

Riacho rio regato

Caipora ou curupira

Nunca me fizeram medo

Quer saber o meu segredo?

Era e sou a Deus temente!

Com fé Nele eu avançava

E nada me assombrava

Nem visagem e nem vivente

Nunca deixei de enfrentar

A vaca braba parida

Mesmo que fosse arriscar

Até minha própria vida

Fazia um estardalhaço

Mas, prendia ela no laço

E com uma manha, um jeitinho

Eu dela me aproximava

E num instante eu colocava

Pra mamar o bezerrinho

Eu que vivi essa vida

Hoje me vejo afastado

Da minha terra querida

E daquela luta do gado

Não posso ter alegria

Pois tudo que eu mais queria

Era vestir meu gibão

Por isso vivo tristonho

Porque o meu maior sonho

É de morrer no sertão

Que o solo sertanejo

Seja meu ultimo abrigo

Esse é meu grande desejo

Porém não sei se consigo

Alcançar essa virtude

Espero que Deus me ajude

Pra que minha ultima casa

Seja nesses carrascais

E lá meus restos mortais

Jazer numa cova rasa

E que esse jazigo seja

Aberto em plena campina

Lá na terra sertaneja

Pois comigo isso combina

E ganharei vida nova

Se ao lado da minha cova

Plantarem um pé de facheiro

E numa cruz de umburana

Um letreiro bem bacana

Aqui descansa um vaqueiro!

Carlos Aires