O gaudério e o caipira

O GAUDÉRIO E O CAIPIRA

Jorge Linhaça

O gaudério e o caipira

marcaram um entrevero

pra ver quem poderia

fazer a melhor poesia

e declama-la por inteiro

O gaudério da coxilha

pos-se a cantar sua trilha

ao som de um índio gaiteiro

"Por meus pagos campesinos

gineteando o meu zaino

pode estar o sol a pino

trabalho desde menino

abraçado ne vento minuano

tenho crença no divino

que me faz assim sorrindo

os meus verso ir cantando"

O caipira veio armado

com seu amigo violão

e na força do dedilhado

não se fez pois de rogado

foi soltando a sua canção

o desafio tava acirrado

e o caipira todo animado

soltou estes versos então:

"Oia meu amigo gaudério

eu sei bem o que é a lida

na roça u trabaio é sério

e disso num faço mistério

Foi lá qui passei minha vida

e lá hei dum dia ficá veio

inté ir enfim pru cemitério

pra úrtima das guarida"

"Bah, caipira, companheiro

escute o gaúcho e aprenda:

hei de ser sempre campeiro

seja eu peão ou estanciero

mas nos lábios de minha prenda

esqueço a lida e fica faceiro

componho o meu cancioneiro

deixo de lado as contendas."

"Gaúcho, ocê tem inté razão

eu ei de ser sempre matuto

e curtivá us pedaçu di chão

mó di alimentá a nação

mai continuenu u assunto

falandu du meu coração

minha muié é minha paixão

e dos seus carinho eu desfruto"

"Oigalê, matuto conchavado,

Sou um gaúcho missioneiro

ando pelos pampas pilchado

dos meus pagos aquerenciado

Gosto de um fandango campeiro

e se a china esta do meu lado

danço vanerão bem grudado

sentindo da china o cheiro"

"Ara, meus guasca amigo,

Tumem gosto dum rasta pé

a minha roça eu bendigo

num sô de corrê di perigo

e muito mesmo di miué

grudo é ela pelo umbigo

meus versu di amô eu digo

mai num digo pruma quarqué."

E o desafio correu largado

para encanto dos presentes

cada um pelo seu lado

fazendo versos largados

contentando a toda gente

o gaudério todo pilchado

o caipira todinho traiado

tão iguais e tão diferentes.