Rebelião no inferno (escrevi este cordel aos 9 anos)

Vou contar uma história

Que no inferno se deu

Com a chegada de uma moça

Que no mundo padeceu

Com a maior das tolices

Desprezando nosso Deus.

Desprezava sempre Deus

Nele não acreditava

Se alguém dele falasse

Ela logo se zangava

Questionando o amor divino

Porque não o aceitava

Mas como todo ser humano

Chegou a hora dela

Ela estava morrendo

Quando lhe deram uma vela

E ela amargurada

Não desgrudava da panela.

Na panela era onde ela tinha

Suas coisas de valor

Ela a amava mais que tudo

E da panela não desgrudou

Esquecendo na sua hora

Do eterno salvador.

Ao morrer a passagem

Já estava em sua mão:

- Não tem como errar

Embarque no camburão

- disse-lhe aquele preto

Primo bastado do cão

Ela olhou para ele

Com os olhos de dá dó

E disse seriamente:

- eu sou Margarina Belfó

E não ando com ninguém

Que não use paletó.

Bastrefado disse a ela:

- pode ficar até pelada,

Pois pra onde você vai

É dura a sua jornada

O lugar é tão quente

Que sua alma será torrada.

Ao chegar ao seu destino

Ficou assustada ali,

Mas lá diante de todos

Estava alegre a sorrir

Na recepção do inferno

O diabo Acassabir.

Ele chegou junto dela

E em sua bunda bateu,

Apertou seus seios

E seu pescoço lambeu,

Arranhou sua barriga

E em sua orelha mordeu.

Com toda aquela pressão

Ela chorando perguntou:

- me digam que lugar é esse

Onde é que eu estou?

Falam pra mim a verdade

Não mintam, Por favor!

Naquele mesmo momento

Ouviu-se um ruído

Estava entrando na sala

O conselheiro dos perdidos

Dizendo: - passe pra dentro

Aqui não terás amigos.

Pegou no braço dela

E lhe puxando saiu

Mostrou-lhe todo o inferno

Tudo o que ela não viu

E ela sentiu na pele

O que antes não sentiu

Foi levada rapidamente

Ao andar aflição

Para fazer seu cadastro

E falar com administração

Pegando com eles a ficha

Para falar com o chefe cão

A fila lá era imensa

Dam Mansinha de Cotó

O diabo que atendia

De todos era o pior

Matava a fome com almas

E a sede com suor

A reclamação era grande

Densinha e diabo Anão

Brigava com Dar Capeta

Era grande a confusão

Ameaçavam uns aos outros

Em denunciar ao patrão.

Margarina Belfó sofria

E já não aguentava mais

Estava sentindo - se perdida

E não saberia jamais

Antes de todas as provas

Onde fica o Satanás.

Perdida e desesperada ela

Resolveu então se juntar

Ao um grupo de diabos

Que viviam a reclamar

Diziam que o inferno não era

Lugar para se morar;

Desimaste, quedubanda

Catavara e selió

Juntaram – se todos

Com Margarina Belfó

Pra tomar o poder

Do diabo Mococó.

Margarina Belfó queria

No inferno ser demais

E não se conformava

De ser considerada incapaz

E não aceitava também

O poder do Satanás.

Rebelião no inferno

É caso de fofoca

No bar da diaba Mãe

Junto com a “Ypióca”

Só rolava a conversa

Do diabo a derrota.

A conversa com certeza

Muito longe chegou

Já estava em todo lugar

Até no andar do terror

Nos ouvidos do chefão

Que daquilo não gostou.

Convocou a gang toda

Todos que pudesse brigar

Disse: - vamos todos

A essa moca derrotar

Ela não pode chegar aqui

E o inferno controlar

Disse ao secretário:

- Convoque Barrabaz

Chame Judas e Caim

E avise Satanás

No inferno hoje tem guerra

Avise também o Rapaz

- Não se esqueça de avisar

No andar da aflição

Convoque todos agora;

O Satanás, o Diabo e o Cão

E não se esqueça de avisar

Nosso amigo Lampião.

- Cotozinho lá nos quintos

Deve saber também

Avise a Taba Lascada

Lá do lado do Além

Diga que venham todos

Dadelá e Varevem.

A fofoca no inferno

Corre mais que raposa

Logo todos sabem,

Pois o diabo mariposa

Fala mais que todos juntos

É pior que sua esposa.

Margarina Belfó já sabia

Desde o andar da aflição

Que todos já sabiam

Da sua rebelião,

Mas ela tinha um plano

Ao inferno dizer não.

Ao descer rapidamente

La no fogo ela encontrou

A gang do chefão

Que parecia um terror

Ela falou a seus colegas:

- não me deixem no calor!

Mococó e sua gang

Avançaram assim dizendo:

- vamos em cima molecada

Que já estamos vencendo –

Com uma facada saiu

Diabo lascado gemendo

Lampião avançou zangado

Em Margarina Belfó

Puxou da sua arma

Dizendo assim sem dó:

- com a raiva que estou

Mato até a minha avó.

- Você pode matar

Sua vó e a do cão,

Mas sou Margarina Belfó

Não se meta comigo não

Eu sou mais forte que

Um milhão de lampião.

Na guerra mais famosa

Que o inferno já viu

Entrou diabo do espeto

Que de repente sumiu

O diabo abalado

A derrota ali sentiu.

Margarina Belfó de faca

A diaba mãe derrotou

Matou um monte de cão

E Mococó esfaqueou

Bateu em Acassabir

E o olho do cão furou

Bateu em Barrabaz

Surrou também Caim

Arrancou a cabeça

De Judas Acaradim

Transformando o inferno

Em uma guerra sem fim.

Lampião novamente

Em Margarina avançou

Ela de uma vez

A cabeça dele arrancou

Dizendo: - já se foi o tempo

Em que lampião mandou.

Ao derrotar a gang

E matar o cão Anão

Margarina entrou com tudo

No andar da aflição

Queria acertar as contas

Com má administração.

Bateu na recepcionista

E no secretário também

No governador que governava

A fazenda do além

Fazendo ali em instante

Do inferno seu refém.

Satanás já assustado

Resolver logo avisar

Ao diabo Lúcifer

O governador chefe de lá

Lúcifer muito assustado

Nem lá quis pisar.

Depois de derrotar

Toda a gang do cão

Margarina avisou

No andar da aflição

Que voltaria a terra

Pra encontrar uma paixão.

Com a partida dela

O inferno retornou

A sua função diária

De espalhar o terror

Só que a crise já era

Muito maior que o calor.

Depois desse dia

O inferno padeceu

Lá não existe quem manda

Virou o maior zezeu

E com certeza o diabo

Teve o que mereceu

Margarina Belfó

Ninguém jamais viu

Falar a seu respeito

Nunca mais se ouviu

Só sei dizer que ela

Lá do inferno sumiu

Se você não acredita

E de mim quiser sorrir

Fique a vontade

E pode e lá conferir

Na recepção do inferno

Com o diabo Acassabir.

Nilson Rutizat
Enviado por Nilson Rutizat em 14/02/2012
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